sexta-feira, 13 de julho de 2012

O 50º ANIVERSÁRIO DAS TROPAS COMANDO

A Sorte Protege os Audazes
Como se sabe – apesar de tal ter sido considerado um facto menor, pela generalidade da comunicação social, a avaliar pelo tratamento dado à efeméride – decorrem este ano as comemorações dos 50 anos sobre a criação das tropas “comando”, no Exército Português.

De facto, a necessidade sentida no início da luta de contra – guerrilha em Angola, de se constituírem unidades especialmente preparadas para fazer face ao novo tipo de combate com que fomos confrontados, cedo se fez notar entre os oficiais do quadro permanente.

Daí se ter constituído o primeiro centro de instrução de “comandos” em Zemba, povoação situada nos Dembos, a norte de Luanda, logo em Setembro de 1962.

Esta comemoração e evocação justifica-se plenamente e merecia um relevo superior à normal festividade que um evento deste tipo deve possuir.

A razão prende-se com os altíssimos serviços que estas tropas prestaram às FAs e a Portugal, tanto em tempo de paz, crise e guerra. Desenvolveram um alto espírito militar e uma mística que lhes granjeou fama que ultrapassou as fronteiras nacionais.

Nos piores momentos mantiveram sempre a disciplina e a coesão e, com elas, preservaram sempre a capacidade operacional. Nunca foram derrotados.

A sociedade deve-lhes, ainda, um papel fundamental (a par das unidades aéreas da FA, que tem sido esquecida), no culminar da gravíssima crise político - social, em 25/11/1975, que colocou o país à beira de uma guerra civil e de uma ditadura feroz de cariz marxista revolucionário.

O silêncio sobre tudo isto não deixa de ser revelador do desnorte em que o país anda e que a “crise” económico – financeira em que mergulhámos está longe de ser o principal responsável.

Digamos que o culminar das comemorações teve lugar no passado dia 29 de Junho, no Centro de Tropas Comando (designação que nos parece menos feliz, já que uma unidade deste tipo deve ser “companhia, batalhão, regimento, brigada”, etc.).

Esteve presente o PR que discursou e condecorou cinco subunidades, por feitos em combate, em Angola e Guiné, nos últimos anos da guerra.

Procedeu-se, também, ao encerramento do 119º curso de comandos, com a entrega das respectivas boina e crachá.

No conjunto, uma cerimónia militar de alto nível como é timbre da casa (pese o cada vez mais diminuto efectivo de tropas e equipamento em parada…).

Impõe-se, todavia, realçar o seguinte: durante o discurso proferido pelo Comandante da unidade, este agradeceu penhorado, a presença das altas entidades presentes (PR,MDN,CEMGFA, Presidente da Camara, etc.). Entendemos tais agradecimentos, à conta de palavras de circunstância, pois tais individualidades apenas estiveram a cumprir o que era seu dever e competia. O que seria de verberar seria a sua ausência…

Ainda durante este discurso (e como me soa mal ouvir protocolarmente, citar em primeiro lugar um presidente de camara relativamente a um chefe militar), passou-se algo inusitado em cerimónias destas: o comandante das forças em parada teve, aparentemente, uma quebra de tensão e tombou por três vezes, a primeira das quais em sentido, batendo com o corpo em prancha, de costas no chão.

Das três vezes se levantou, amparado pela ajuda entretanto chegada, e das três vezes recusou abandonar o seu posto.

À terceira vez, e apercebendo-se que o oficial não estava em condições físicas de permanecer na função, o Chefe do Estado - Maior do Exército, num gesto bonito e algo inédito, levantou-se do seu lugar e dirigiu-se ao oficial em questão, que estava a 50 metros de si, pegou-lhe no braço e conduziu-o para fora da formatura.

De imediato o oficial mais antigo a seguir assumiu o comando e assim sucessivamente.

Tudo esteve bem e assim é que deve ser.

Apenas para os militares da “velha guarda” um pormenor correu diferente da antiga disciplina lusitana: o oficial que caiu (de pé) deveria ter sido ajudado por pessoal do Serviço de Saúde, a postos, fora da formatura e não por pessoal que está formado (na formatura não se mexe nem que chova picaretas, lembram-se?).

Mas, enfim, ninguém está à espera que seja o comandante a cair, só que todos os comandantes também são feitos de carne e osso.

A condecoração das unidades “comando”, o Batalhão de Comandos da Guiné e as 19ª,20ª,30ª e 33ª Companhias de Comandos, comandadas respectivamente pelos então, Major Almeida Bruno e Capitães Raúl Folques, Oliveira Marques, Rosa de Oliveira (falecido) e Arnaldo Cruz, representa o reconhecimento, apesar de muito tardio, do seu valor militar.

Dir-se-á que vale mais tarde do que nunca, mas convinha apurar as causas/responsáveis de tão grande hiato temporal, pesando o facto de tratar-se de tão elevada condecoração como é a Cruz de Guerra. Tudo isto pode vir a abrir uma “caixa de pandora” no futuro imediato.

Finalmente passámos a ter mais uma mão cheia de militares com a especialidade “comando”, mais propriamente 20 (dois oficiais, um sargento e 17 praças), o que representa 38% dos 52 que iniciaram a preparação seis meses atrás.

Parece ser muito pouco, não só em número mas, outrossim, em termos de custo/eficácia.

Não estamos a pôr em causa a qualidade da instrução ou a sugerir um relaxamento nos níveis de exigência. Estamos a dizer que há seguramente um problema no recrutamento e selecção que deve ser equacionado/revisto rapidamente.

Mesmo tendo em conta a medíocre preparação física, cultural, técnica, cívica e psico - moral da generalidade dos jovens que chegam à idade adulta. Um magno problema que só o Conselho de Ministros tem capacidade para ir resolvendo, mas que nunca deve ter passado pela agenda de nenhum, faz décadas.

Longa vida pois, às tropas comando, sem esquecer que esta longevidade vai estar intrinsecamente ligada às necessidades e requisitos operacionais do combate futuro e à “ordem de batalha” que se consiga manter nas micro - quase extintas FAs que se antevê.

Se a Nação estivesse de “boa saúde” e o Estado, de facto, a representasse, cerimónias como esta estariam pejadas de povo, que aproveitaria a ocasião para lá ir homenagear aqueles cuja missão primeira é defendê-lo em situações extremas, e aos que tombaram no passado, ao fazê-lo.

E aproveitariam para cantar a “Portuguesa” em vez de só o fazerem quando se juntam em grupos ululantes, para verem uns tipos jogarem uma bola com algumas partes do corpo.

Bom, mas isso era se o País estivesse de boa saúde.

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