Há cerca de 30 anos, mais coisa menos coisa, que andamos nisto: cada vez que há exames no secundário (e nunca se sabe para que servem e para o que contam…), e se conhecem as notas, logo se desencadeia grossa polémica sobre os (fracos) resultados e o pouco que os alunos sabem sobre as ditas matérias.
Daqui se passam a esgrimir argumentos sobre o porquê das coisas e o que se deve fazer. Friso que assim se passa vai para 30 anos!
Daqui se passam a esgrimir argumentos sobre o porquê das coisas e o que se deve fazer. Friso que assim se passa vai para 30 anos!
Tem-se ouvido de tudo um pouco: que os exames são fáceis; que os exames são difíceis; que os exames têm erros; que não se pode obrigar os alunos a decorar; que as máquinas de calcular são boas, más e assim, assim; que os programas têm poucos autores contemporâneos, ou renascentistas, ou árcades, quiçá românticos, para já não falar nos realistas; não se liga à poesia; há poesia a mais; os alunos não estão preparados para a poesia; os alunos não gostam das disciplinas; o ensino deve ser lúdico; o aluno deve fazer o seu próprio caminho, segundo as suas faculdades e motivações; o ensino é demasiado formal; que os professores têm que saber motivar os alunos; que reprovar causa danos psicológicos a quem estuda; que têm que se atender às diferenças sociais, que sei eu?! Dava para encher sebentas.
Na sequência têm-se inventado as mais mirabolantes teorias e experiências pedagógicas, menos para resolver o problema do que para iludir as aparências.
Os sucessivos governos têm lidado com a realidade aos ziguezagues e em regime de cata-vento.
Eu, sinceramente, creio que o problema é de simples resolução e não carece de complicadas congeminações multidisciplinares onde entram catervas de pedo – psiquiatras, pedagogos, sociólogos, politólogos, psicólogos e outros “ólógos”, já que só descortino quatro razões para haver más notas às citadas disciplinas:
· Os alunos não querem estudar;
· Os alunos não têm capacidade para aprender;
· Os professores não sabem ensinar;
· Uma combinação das anteriores.
Ora se os alunos não querem estudar, a solução é simples: chumbam;
Se não têm capacidade para aprender, a solução também é fácil: chumbam – em alternativa mudam de curso ou de vida;
Se os professores não sabem ensinar, têm que ser corridos, isto é, chumbam de outra maneira – para que isto não se dê, têm que ser devidamente seleccionados, preparados e avaliados;
Qualquer combinação das anteriores salta, outrossim, à evidência, que só o chumbo purifica.
Ou seja todo este granizé não tem razão que o justifique, a não ser que não se tenha mais nada para fazer.
Pode, porém, dar-se o caso do Ministério não acertar com regras, matérias e definição de objectivos – que é, aliás, o que tem acontecido, acrescido de mudanças constantes de critérios – nesse caso a coisa é mais complicada, pois tem que se mudar de ministério.
Ora é justamente neste ponto que ainda nenhum governo teve coragem de mexer a sério: o Ministério da Educação foi um dos ministérios mais subvertidos a seguir ao 25 de Abril de 74, e ainda hoje não foi completamente saneado. Fica aqui o alerta para o actual inquilino da 5 de Outubro.
Partindo do princípio que existe um programa adequado e que é cumprido, durante o ano lectivo, os conhecimentos dos alunos devem ser aferidos em competentes exames e testes, cuja bitola de exigência deve ser compatível com o grau de conhecimento que se pretende no escalão seguinte, até se chegar às competências que um novo profissional tem que possuir para poder viver de vida própria.
Neste âmbito optou-se, até hoje, pela manutenção de dois erros colossais, a saber: um facilitismo desmedido e transversal a todo o ensino; um grau de exigência em “paralelepípedo” em vez de “funil Invertido”. Expliquemo-nos, ao contrário do ditado popular “de pequenino é que se torce o pepino”, passou a não se torcer nunca o pepino. Ou seja desde pequenino é só facilidades que, naturalmente, continuam pelos anos fora. Resulta que os jovens não são minimamente preparados, percepcionam uma ideia errada da escola e da vida e como passam de ano sem os conhecimentos básicos, a partir de certa altura não conseguem atinar com nada, somando ondas de frustração gigantescas e entupindo todo o sistema.
O facilitismo vem, então, ao de cima novamente, agora fortemente pressionado pelas promessas de vida fácil, com o fito de se ganhar votos nas eleições. Resulta que inundamos as universidades de analfabetos militantes, que suam as estopinhas para obterem um canudo (e os professores para lhes ensinar algo).
Como todo o mundo deixou de acreditar no sistema de ensino e nos canudos, são as próprias “Ordens”profissionais e as empresas a quererem fazer exames de selecção e estágios de preparação, para eles poderem entrar no mundo real. Uma empresa privada não se pode dar ao luxo de ter incompetentes, senão fecha…
Ou seja, tem sido o próprio sistema político que induz o descalabro. As estatísticas da União Europeia fazem o resto.
Para aguentar o sistema educativo, mente-se continuadamente e despeja-se no dito cujo, euros aos milhões. Agora já não é possível nem esconder a demagogia e os maus resultados, e já não há dinheiro.
Fazer reformas, contudo, vai encontrar oposição feroz, não só de quem se habituou ao facilitismo, como de todas as “estruturas” que se adaptaram a viver, ou a alimentar, este colossal embuste.
Todavia, é bom lembrar, que a situação em que ora estamos teve origens ideológicas: a destruição de uma “ordem” para a imposição de uma outra; a massificação do ensino, que levou ao nivelamento por baixo; a negação das elites – um erro de catastróficas proporções; o nivelamento hierárquico que provocou a falta de autoridade e disciplina; o falso principio de que todos somos iguais, que originou uma confusão de conceitos e posturas; o desregramento criminoso e as teorias idiotas originadas no Maio de 68, em França; a desresponsabilização larvar que resultou de tornar inimputável qualquer comportamento fora da norma (qual norma?), impossibilitando a aplicação de sanções, etc.
Enfim, as asneiras são incontáveis e o desastre é extenso e profundo, e raros são os jovens que chegam ao mercado de trabalho com preparação adequada para enfrentarem a dureza da vida e serem cidadãos de corpo inteiro.
Dou um alvitre, se a nível dos responsáveis, andam agora de mãos na cabeça e sem saberem o que fazer, ponderem o seguinte, até inventarem uma coisa melhor: vão verificar como era no meu tempo da instrução primária e do liceu (e, por favor voltem a chamar liceu às “escolas secundárias”), e implementem. Funcionava tudo.
Funcionava tudo, até, muito bem.
Reactivem as Escolas Comerciais In_
ResponderEliminardústrais(cada vez temos menos qua_
dros intermédios é tudo doutor ou engenheiro)Para que estes Estabele_
cimentos de ensino,não sejam os fi_
lhos bastardos do sistema,como era
antigamente,acrescentem aos cursos
industriais,um pouco mais da lingua
portuguesa(cultura)e uma lingua es_
trangeira,coisa que só os dos cur_
sos do comércio aprendiam um pouco.
Assim como somos um país de heste_
reótipos e de protagonismo,estes
cursos ficariam com o mesmo "Esta_
tuto"do ensino liceal(frequentei os
dois sistemas,vi a decriminação).
Depois acabar com os módulos e im_
plementar a cota dos trinta valores
ao fim do ano lectivo,para passar de ano ou ir a exame.Quem não es_
tudava,apanhava com uma valente es_
teira de setes,chumbava o ano todo
e tinha que o repetir inteirinho.Se
não passa-se da "cepa torta"ía tra_
balhar,para aprender doutra forma a
ser alguém.Agora apesar de tanto facilitismo,continuamos a ser os menos cultos da Europa e tecnológi_
camente um dos mais atrasados.Aqui
também não estou com loas,falo com
experiência,estou ligado ao ensino
técnico-profissional,não sendo Do_
cente,mesmo assim não sou alheio
ao desenrolar do "folhetim"que é o
nosso ensino,com culpas de todos os lados.No caso dos mais interes_
sados e para quem todos trabalha_
mos,os alunos,deixai que vos diga
tal,tal filhos, iguais pais,muitos
faltam ás reúniões de turma,quando
aparecem,são pouco amistosos,exigem
mais do que cumprem.Para se ser professor também há que ter uma boa
dose de João Semana,senão.O mundo
moderno é feito pelos professores.
Todos tivemos um professor,o pro_
fessor antes de o ser teve os seus.
Alberto Guerreiro.
Meu caro Ten.Coronel.
ResponderEliminarA culpa do estado a que isto chegou não é do 25 de Abril, é dos homens, é de nós todos.
O 25 de Abril aconteceu porque o povo estava farto da ditadura, as consequências são da responsabilidade de todos nós.
Quanto ao facilitismo, ele já é velho e está no código genético de todos nós.
Recordo que no final do meu 1º ano na Academia Militar, salvo erro, só passaram de ano nove ou dez alunos.
Como seria escandaloso iniciarem o segundo ano apenas aquele número tão restrito de alunos, o General Comandante tomou a decisão, inédita na Academia Militar, de deixar transitar para o segundo ano todos os cadetes com uma cadeira em atraso à qual seriam submetidos a novo exame no final do ano seguinte.
Assim se fez.
No final do segundo ano foram submetidos a exame, e pasme-se, todos tiveram uma classificação superior a doze valores, o que quer dizer que todos dispensaram da prova oral.
O que significou terem ficado à frente dos seus camaradas que tinham passado a todas as cadeiras por mérito próprio.
Os catedráticos das cadeiras deram as cadeiras de borla aos alunos e não se atreveram a levar ninguém a prova oral, onde certamente todos reprovariam porque ninguém pegou num livro para estudar as matérias a que foram submetidos a novo exame.
Recordo-lhe este triste episódio só para ilustrar o seu discurso.
Manuel J.M.Talhinhas
Grato pelo texto anexo, que aplaudo; e me suscitou apresentar dois tópicos, à reflexão sobre o tema epigrafado.
ResponderEliminarDesde o pretérito 14 de Março, por intermédio do portal UTW, está disponível na internet um documento, em cujo final se pode ler:
- «Os naturais mostram-se sedentos de instrução, porque nela vêem o meio de valorizar-se, de melhoria económica e mesmo de ascensão política. Há que matar-lhes a sede, sem esquecer equilibrar as escolas nos graus médios e superiores com o desenvolvimento económico geral, sob pena de criar-se perigosamente um proletariado intelectual, dado à agitação pelo desemprego e à política pela ambição.»¹
¹ (AOS, in "O Ultramar e a ONU"; AR, 30Jun61)
Lembro também que, na tarde do 10 de Junho de 1971, decorrida uma década sobre a alocução supra citada – e, portanto, volvidos que agora vão 40 anos desde início desta rebeldaria da Instrução Pública em Portugal –, o progressista MEN Veiga Simão (caetanista desde o pós-IIGM), no decurso da habitual sessão solene de homenagem anual ao professorado primário, perante o PR proferiu no Liceu Camões um discurso, para justificar os «princípios que fundamentaram a estruturação do programa da disciplina de História no Ensino Técnico Secundário», afirmando a dado passo que se «deve passar a evitar a clássica concepção épica da História, não se dando por isso relevo à História Militar e às figuras das quais se fazia depender o curso dos acontecimentos»...
Abraço,
Abreu dos Santos
Meu Coronel
ResponderEliminarSou Pilão, e não imagina a frustração que sinto ao constatar( perdoe-me o galicismo) a ignorância do meu rapaz(20 anos, bom aluno segundo os padrões actuais).
E o mais triste é que não tendo posses para o encaminhar para um Colégio interno, assisto impotente ao nascimento de mais um Doutor ou Engenheiro de carregar pela boca.
Saudações
Carlos Coutinho
Muito bem, muito completo, muito oportuno
ResponderEliminarUm abraço
Pina Navarro