“Ó mar salgado quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”
Fernando Pessoa
7 de Novembro dia de FC Porto x SL Benfica, chamam-lhe um “clássico”. Não se trata de um filme, uma peça de teatro, um livro, ou qualquer obra de arte, trata-se de um jogo de futebol, desporto estimável que a clubite aguda e a ambição dos homens extremou e transformou num mega negócio, que a comunicação social tornou global.
Fernando Pessoa
7 de Novembro dia de FC Porto x SL Benfica, chamam-lhe um “clássico”. Não se trata de um filme, uma peça de teatro, um livro, ou qualquer obra de arte, trata-se de um jogo de futebol, desporto estimável que a clubite aguda e a ambição dos homens extremou e transformou num mega negócio, que a comunicação social tornou global.
Por ele, “poucas noivas ficaram por casar, nem mães choraram, nem filhos em vão rezaram”, mas quase todos os clubes e federações se endividaram, arruinaram ou cometeram os maiores excessos, irregularidades, etc., para que fossem deles a vã glória do futebol. Amiúde com pouco claros conúbios com políticos e políticas, numa promiscuidade malsã.
Dos desregramentos, paixões, jogadas “off side”, e suspeitas de casos de corrupção activa e passiva, são-nos dado conta, diariamente, pelos abundantes “media” que tratam do assunto, especializados ou não. Aos craques do futebol quase tudo se lhes permite e ninguém se choca com os maus exemplos que de quando em vez dão, nem com os proventos milionários que se lhes oferecem numa espiral ensandecida. Perder um jogo transformou-se quase num crime de lesa Pátria…
Tudo isto é um péssimo exemplo para a sociedade que a imprensa e a rádio e a televisão ampliam “ad naseum”. Dizem que o público gosta. Eu não gosto.
Passando-se as coisas assim, medram aqui e ali os actos de violência e as situações mais deploráveis. Desta feita ficámos a saber através dos canais de TV de maior audiência, que abriram os seus noticiários com abundantes minutos sobre o “clássico”, que o autocarro do SLB teve que ser escoltado por numerosos carros e motas da PSP (mesmo assim não se livrou que lhe partissem um vidro), e se organizaram comboios especiais para levar adeptos para a Invicta escoltados por 145 polícias (!), a que se juntou um novo e amplo dispositivo policial na capital do norte a fim de escoltar e separar as claques!
As pessoas entram como gado para o estádio, são revistadas, condicionadas, etc., nas nunca devem estar sossegadas pois nunca se sabe quando levam com uma bola de golfe ou com um very light. Parece o Farwest no seu esplendor. A gente tem que assistir a isto tudo e ainda por cima pagar. Antigamente só tínhamos que aturar os treinadores de bancada, muitos deles sem nunca terem dado um chuto numa bola; agora aturamos também as perguntas meio parvas dos entrevistadores e as respostas de igual coturno dos entrevistados, ruidosos e excitados. Finaliza-se com conferências de imprensa muito concorridas onde jogadores e treinadores fazem comentários e tecem considerações inteligentíssimas. Estas cenas sucedem-se sucessivamente sem cessar.
As autoridades assistem a tudo isto impávidas e serenas, apenas preocupadas em acompanhar a onde popular (votos a quanto obrigas), sem um esforço pedagógico, sem um ar de autoridade (também se o fizessem a malta ria-se), sem ânimo para reprimir excessos e sem lei para prender vândalos.
Para cúmulo permitiram aquela cena patética e ridícula de tentar “requisitar” o Mourinho, ao Real Madrid, para orientar dois jogos da selecção e apoiaram a candidatura ibérica – essa sim, politicamente errada e grave – de organização do próximo mundial de futebol, em 2018!
Nós estamos a desclassificarmo-nos como povo adulto e evoluído e andamos à deriva, sem sequer termos clara consciência disso.
Poderão argumentar que é assim um pouco por todo o lado. Pois será, mas nem sequer me serve de consolação.
É um fenómeno sócio-cultural que
ResponderEliminarsempre me fez muita confusão.Até as
pessoas cultas e com elevada forma_
ção académica o vivem como se a
honra;o progresso e o bem estar de
uma nação,dele dependessem.Vinte e
dois"marmanjos"mais bem pagos que
cientistas;professores,até mais que
os politicos(coitados), correm num
rectângulo a disputarem uma bola,
com umas centenas largas de pessoas
por vezes a insultá-los ou a degla_
diarem-se entre si, a terem ataques
cardíacos.No outro dia,estamos "nas
mesmas".Não estamos própriamente no
tempo do Coliseu de Roma,nem nos
Torneios da Idade Média.Como não sou formado em,nem discipulo de
Freud,lá que me faz confusão, lá
isso faz.
Alberto Guerreiro.