Ainda não tínhamos recuperado do congelamento das promoções dos militares e já outra decisão incrível, bateu à porta dos quartéis: o Sr. Ministro da Defesa, por despacho de 17 do corrente, mandou “congelar” todas as verbas, ainda não consignadas. No dia 18 de manhã as unidades, órgãos e serviços dos três ramos das FAs, abriram os computadores (existe um sistema informático integrado que mantém a informação financeira “on line”) e verificaram que todos os saldos das diferentes rubricas orçamentais estavam a zero.
Como se chegou a isto? Simples, como costuma acontecer por esta altura do ano vão dizer ao Sr. Ministro que falta verba para se pagar os vencimentos (ás vezes também para outras coisas…) e que é necessário um reforço de capital. Desta vez, porém, o Sr. Ministro das Finanças não deve ter estado pelos ajustes e o MDN estava num beco sem saída. Aparentemente por sugestão do secretário-geral do ministério, o Sr. Ministro foi às contas das unidades e rapou-as.
Isto está tudo mal e imbuído de uma perversidade escandalosa: o governo começa por orçamentar as verbas necessárias para as FAs (sinal para o eleitorado: estamos numa de conter gastos…); depois cativam ou congelam uma percentagem elevada de verbas atribuídas (mensagem para o eleitorado: nós estamos a pôr estes tipos na ordem…); mais tarde, quando a situação está em ruptura no pessoal – porque no resto já está tudo parado há muito – fazem saber que é preciso mais dinheiro (mensagem para o eleitorado: estes tipos gastam mal, o dinheiro nunca lhes chega e só nos arranjam problemas…); finalmente disponibilizam “in extremis” o mínimo de verba arengando o facto (mensagem para o eleitorado: o governo em mais um esforço ingente sacrifica-se a tapar os buracos destes incompetentes, pois é preciso salvar a dignidade do Estado ou cumprir compromissos assumidos). A cena foi-se repetindo, ano após ano, sem que o assunto até hoje tenha sido denunciado por nenhum deputado, chefe militar, comentador político ou profissional da informação. A “crise” pôs um ponto final no esquema.
Mas destapou outros: trata-se de mais uma ingerência inadmissível no funcionamento interno da Instituição Militar (outras se seguirão…), uma ultrapassagem hierárquica grosseira e um atestado de desconfiança e de incompetência para com as FAs e os militares (o sr. ministro “sabe tudo” substituiu, até, o chefe de gabinete por uma “girl”).
E urdido, ao que tudo indica, de uma forma baixa e mal-educada, para ficarmos por aqui. Isto porque nada foi, aparentemente, conversado/discutido/analisado, com a hierarquia militar. Foi todo o mundo confrontado com um facto consumado.
Neste momento ninguém sabe o que há-de fazer. O Sr. Ministro pretende que cada unidade/órgão lhe submeta os pedidos inadiáveis a que ele magnânima e superiormente decidirá. Luís XIV (o rei sol) deve estar a dar voltas no túmulo incomodado com tanta concorrência…
Portanto, neste momento está tudo em causa e o facto de ninguém saber como vai pagar a alimentação, a água, a luz, o fardamento, o combustível e tudo o resto que faz falta a um Exército, é ainda, quanto a nós, o menos grave de tudo.
Abriu-se também uma caixa de Pandora: vai ser inevitável que irão ficar coisas por pagar. Quando se tratar de empresas privadas, vão ficar a arder com o que têm a haver, interrompem os serviços e, ou, entopem os tribunais com processos, ficando o resto da vida à espera de uma decisão; se forem empresas públicas, vai-se engordar o seu deficit o qual, naturalmente, passará para o ano que vem e assim sucessivamente.
Quem vier a seguir que feche a porta e apague a luz…
Laus Deo.
Esxte episódio, meu caro amigo, só vem confirmar o texto anterior e o meu comentário a esse texto.
ResponderEliminarOs militares são tratados "abaixo de cão", desculpa-me a expressão, e não reagem nem um pouco!
Não foi nestas Forças Armadas que eu servi dois anos na Guiné!
Um abraço amigo
Joaquim Mexia Alves
MAIS UMA VEZ PARABÉNS PELO ARTIGO. QUE PENA SERMOS TÃO POUCOS...
ResponderEliminarMEDINA DA SILVA
Caro Amigo e Camarada,
ResponderEliminarEste comportamento do responsável político, que é o MDN, mostra claramente falta de sentido de Estado, no mínimo. Ultrapassa os limites do desrespeito para com as Forças Armadas - e por isso lhe assenta muito mal o título de Ministro de Estado!
Este artigo saiu ontem no "Público", pelo que ganhará maior visibilidade, e com as várias achegas "ao eleitorado" pode ser que finalmente percebam (o que não significa que façam...).
Cumprimentos.
Manuel Figueiredo