SERÁ A
“TOLERÂNCIA “ A ANTECAMARA DA MORTE?
17/08/16
“Há três passos para
a extinção de qualquer cultura:
1º A exagerada
idealização da tolerância;
2º A instalação da
apatia, o desinteresse geral;
3º A perda da razão
de existência.”
Aristóteles (Tutor de
Alexandre, o Grande).
Não há nada como
começar por definir os termos em questão. Assim, por “tolerância” (do latim
“tolerantia”) verificámos significar, indulgência, condescendência,
complacência, transigência, qualidade de tolerante.
Já “tolerante”
(lat. “tolerante”) é aquele que tolera ou desculpa; condescendente, indulgente,
complacente, benigno.
E aquilo que é
“tolerável” (lat. “tolerabile”) representa o que se pode tolerar, digno de
indulgência, sofrível, passável. [1]
Em termos
históricos o conceito de tolerância terá sido “ressuscitado” por alturas do
século XVI, por causa das guerras religiosas, entre católicos e protestantes,
que ensanguentaram a Europa.
Se há tema
politicamente incorrecto na actual “civilização” ocidental este é seguramente
um deles, até porque está directamente ligado, modernamente, ao malfadado
conceito do relativismo moral e ao multiculturalismo.
Talvez apenas
exista um tabu que se lhe assemelhe, o de falar em tudo o que esteja
relacionado com judeus, judaísmo e sionismo.
Vamos ficar pelo
primeiro e tentar definir-lhe o âmbito.
De facto o conceito
de tolerância pode aplicar-se a todos os âmbitos da vida em sociedade, desde a
Política, à Religião, da tolerância técnica (margem de erro aceitável) à Farmacologia
(tolerância a medicamentos), às relações de trabalho, etc., ou às simples
relações sociais - a mais comum.
Nestas existirá, à
partida, certo grau de intolerância generalizada, quanto a práticas que ofendam
os Dez Mandamentos, violem as leis existentes (mesmo estas têm margem de tolerância
diferenciada), traição, etc.
A tolerância tem o
seu âmbito mais elementar nas relações pessoais em sociedade e pode definir-se
pelo grau de aceitação e inclusão que uma pessoa que saia fora da norma –
entendendo-se os costumes em uso numa dada época – venha a ter.
O próprio bom senso
devia regular estas relações, por exemplo: se o meu vizinho não gosta de
batatas a mim não me custa nada tolerar tal facto; as coisas mudam de figura se
ele me quiser impor que eu também não goste dos tubérculos ou, pior ainda, que
eu não possa comê-los – o que se pode extrapolar, também por exemplo, para a guerra
que um grupo de “intolerantes” pretende fazer com as touradas - ou me queira
impor decibéis acima de 90, entre as quatro e as seis da
manhã.
Mesmo assim eu
ainda posso tolerar o barulho caso me afecte apenas a mim e não me importar com
o ónus. O caso muda de figura se a minha família for atingida, já que tenho o
dever de a defender. O mesmo se deve passar com as autoridades do Estado,
quando os assuntos passam para esse nível.
Os exemplos podiam
multiplicar-se.
Uma regra de ouro
deve aplicar-se em todos os níveis onde se aplique a tolerância: a reciprocidade.
Daí não fazer
sentido por exemplo, que os países cristãos permitam a existência (nalguns
casos maciça) de mesquitas e direito de pregação e não haja a correspondente
reciprocidade por parte de países de maioria muçulmana…
Mas,
independentemente da reciprocidade existente há um sem número de coisas que não
se podem tolerar: que os filhos batam nos pais; que os alunos maltratem os
professores; que o vulgo tenha relações sexuais na via pública; que os drogados
mostrem as suas mazelas na televisão; que digam mal da minha mãe; que se jogue
à batota nos clubes de oficiais, sargentos ou praças; etc.
A lista não acaba.
Tornou-se mais
curta, porém, por via da falta de censura social, derivada do desvirtuamento de
princípios e, ou, da cobardia geral.
É esta falta de
censura social, que exponenciou a pornografia; o vício; a homossexualidade; a
droga (ao mesmo tempo que se instaurou um fanatismo contra o tabaco!); o
desregramento familiar; urinar na rua ou, simplesmente deixar que os comunistas
falem em democracia e liberdade, sem levarem logo com um pano encharcado na
cara!
*****
“A
tolerância é a filha da dúvida”.
Erich
Remarque
“Há
um limite em que a tolerância deixa de ser uma virtude.”
Edmund
Burke
A coisa complica-se
quando a questão da tolerância passa para o âmbito da Moral, da Cultura, da
Religião e da Política.
Aqui as coisas
podem tomar o caminho apontado por Aristóteles e assistir-se ao fim de uma
civilização, cujo exemplo mais conhecido é o da queda do Império Romano do
Ocidente, seguido do Império do Oriente!
E é bom lembrar o
mestre de Aristóteles, Platão, que alertou: “Quando um povo escorrega para o
caminho da Democracia encontrará uma bifurcação, ou vai para uma ditadura ou
directamente para o seu desaparecimento”.
A História de
Portugal desde 1820 tem sido quase cópia decalcada deste enunciado…
Uma moral, uma
cultura, uma religião ou uma política, que tudo tolera, deixa de acreditar em
si, nos seus valores, tradições e esteios. Deixa de lutar e encolhe os ombros:
passa a ser complacente. Daí verga, dobra-se e deixa-se subjugar.
A Europa – ou seja
os países que a compõem – está quase a atingir o fim deste caminho.
Não é por acaso
que, ainda como exemplo, a Igreja Católica, a Maçonaria e os Partidos
Comunistas, são mutuamente exclusivos entre si. Onde é que neste caso se pode
falar de tolerância?
O que pode ou deve,
então, ser tolerado? Como definir os limites da tolerância?
Diria que o que
pode ser tolerado não deve ofender os princípios e os valores fundamentais de
uma sociedade, os símbolos dos países e das instituições; a honra de cada um; a
dignidade nacional; a moral pública; o “Deus” dos outros; a verdade, a justiça,
etc.
A tolerância pára
no limiar do crime…
E, tão pouco, todas
as opiniões são toleráveis ou devem ser toleradas, pois algumas não são
respeitáveis! Dizer o contrário pode ser social ou politicamente correcto, mas
não passa de uma falácia.
Como dizia Jean Rortand
“ter um espírito aberto não é tê-lo escancarado a todas as tolices”.
Outra questão assaz
pertinente tem a ver até que grau a tolerância vai afectar aquilo em que
acredito, mesmo que não signifique aceitar o que se tolera…
Tão pouco se deve
confundir tolerância com respeito: eu posso respeitar o costume que os beduínos
têm de comer com as mãos, mas isso não me obriga a tolerar que tal aconteça em
minha casa.
Para já não citar
Roger Gard “uma convicção que começa por admitir a legitimidade de outra
convicção adversa, condena-se à ineficácia”.
Se eu tolerar uma
ideia, ou um estado de coisas que me contrariam, eu vergo-me, deixo de
acreditar; deixo de lutar, serei no limite, absorvido, escravizado ou submetido:
por outrem, por factos ou circunstâncias.
Quando tal passar
para o nível dos países ou das civilizações, estas entram inevitavelmente em
declínio e podem desparecer. É o que está a acontecer com a civilização ocidental,
nomeadamente a europeia, caracterizada nos seus fundamentos pela Razão Grega, o
Direito Romano e o Cristianismo.
Os germes da
decadência começaram e expandiram-se, justamente por se ter começado a
abandonar estas raízes. Porquê? Porque a partir do século XVIII – o chamado
“século das luzes” (também do abuso do juro e da usura), o que passou a dominar
na Europa tenham sido as ideias do Positivismo, em detrimento do Direito Natural;
o império da razão e da ciência em vez da Fé; o laicismo e a centralidade da
vida viraram 180º, isto é, do Teocentrismo (centrado em Deus) em favor do
Androcentrismo (centrado no homem).
Daqui ao Homem
querer ser o seu próprio Deus, foi um fósforo…
Ora quem passou a
defender e a veicular tudo isto, foi a Maçonaria, uma organização que virou
especulativa e se mostrou à luz do dia em 1717, faz para o ano 300 anos.
Irá certamente,
haver festejos, mas “discretos”, como convém. Ninguém sabe ao certo (nem eles)
a origem desta organização de que as pessoas só falam à boca pequena e que vive
no maior secretismo. Ora a nível de um Estado e por maioria de razão, um Estado
- Nação, não é admissível haver organizações secretas, a não ser aquelas
criadas e sustentadas pelo próprio Estado (supondo que é a emanação da Nação
politicamente organizada), para a defesa e salvaguarda da segurança desse mesmo
Estado e respectiva Nação.
Ora não é nada
disto que se passa com a Maçonaria, nem com as “maçonarias financeiras” e de
poder, que se lhes seguiram, no século XX.
A Liberdade, a
Igualdade e a Fraternidade não passam por isso de uma falácia, pois a liberdade
sendo um conceito absoluto é de aplicação relativa; a igualdade é uma mentira
monumental e a fraternidade resulta apenas numa amarra aglutinadora de quem é
membro do clube.
Tudo o resto serve
par iludir a figura de gato-sapato, que fizeram da Democracia, leia-se, como
legitimar, iludindo, o exercício do Poder.
Mas isto representa
outro patamar de discussão.
Quanto à
“tolerância”, importa dar alguns exemplos, para colocar a questão ao nível do que
pretendemos ilustrar.
O exemplo mais
actual e expressivo, a nível social, é o caso dos homossexuais.
De “maricas e fufas”
(termos reprobatórios da gíria popular) passaram a “gays”, um termo “respeitável”
e de salão.
De ostracizados e,
por vezes, perseguidos, passaram a tolerados ou indiferentes; daí a
afirmativos; depois a incentivados e agora querem impor-se e trazer para a via
pública aquilo que é da esfera privada.
Já estou como o
outro: vou-me embora antes que seja obrigatório! (Resta saber é para onde!).
Querem - e têm
conseguido - legitimar uma aberração da natureza (o que lhe vamos chamar?), de
que eles não têm, à partida, culpa (mas não deixa de ser uma aberração), de
modo a subverter as leis naturais da sociedade, da família, do casamento e da procriação.
Enquistam-se em “lóbis”;
infiltram-se em funções e até profissões, e tudo isto nas barbas da mais
estúpida “tolerância”…
Não querem ter
filhos naturais mas exigem que lhos demos artificialmente, e um dia destes
exigirão um sistema de quotas para cargos e funções, ao passo que os ensaios
delirantes de educação sexual nas escolas públicas deviam ser considerados um
crime público!
Afirmam-se e
intimidam, pelo nojo das marchas de orgulho "gay" (importam-se de
tolerar que ache aquilo um nojo?) e já se chegou ao cúmulo de se blindarem com
leis de delito de opinião (por exemplo, na Bélgica) de modo a que não se possa
criticá-los!
A coisa passou do
“tolerável” a escabrosa (oito ou 80), estando uma parte considerável da
população já rendida e derrotada.
*****
“Um
povo que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do
tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos
grandiosos claramente anunciados.”
Bento
XVI
Lisboa,
12 de Maio de 2010
O derradeiro
exemplo é o da Igreja Católica.
A tolerância
pregada e assumida pode ser o fim da Igreja. Não que a Igreja não tenha que ser
tolerante para com as outras religiões e não possa ou deva comunicar com elas;
o mesmo se passando para com os indivíduos que não sejam do seu credo, ou não
tenham credo algum.
Mas não pode ser
tolerante para com as ideias que não sejam as suas; que ponham em causa os seus
princípios, o seu Evangelho.
Não pode ser
tolerante contra si própria! Confundir estes dois planos vai – e já está – a
custar-lhe caro.
Se continuarem
nesta senda tal irá levar à sua exaurição e irrelevância, pois será a própria
hierarquia da Igreja que deixará de acreditar na sua Fé e no que anda cá a
fazer!
E não podem aceitar
de modo algum, complacência com o relativismo moral, o moderno cancro que
subverte a sociedade, nomeadamente aquelas de cultura ocidental.
A tolerância
relativamente a Princípios e Doutrina devem ser mutuamente exclusivos. Aí a
luta tem que ser radical. Não contra o outro, mas sim contra a ideia do outro e
a seu favor!
A Igreja passa
agora o tempo a pedir desculpa: do que fez, do que não fez, do que devia ter
feito, tudo. Só falta pedir desculpa por existir.
Pedir desculpa não
tem mal nenhum, quando é o reconhecimento de um erro e demonstra lucidez e
humildade.
Mas “que diabo”
convinha ter algum senso a fazer as coisas como, por exemplo, enquadrar os
eventos e equilibrar o passivo com o activo.
E como o seu
exemplo não tem arrastado mais nenhuma outra entidade, instituição ou religião,
a fazer o mesmo relativamente aos seus erros e, ou, crimes, parece que só a
Igreja é que é culpada de todos os males do mundo!
Eis mais uma
questão em que havia de haver reciprocidade…
Outro âmbito onde a
Santa Sé tem falhado redondamente é na actual crise dos “Migrantes”.
A Santa Sé e Sua
Santidade andam a confundir questões humanitárias com problemas geopolíticos –
e estes são gravíssimos.
A Igreja devia
limitar-se à misericórdia e ao apoio humanitário, na desgraça que tudo isto
representa, na medida das suas possibilidades. Não devia, de todo, pela sua
acção de magnanimidade irrestrita, estar a ajudar a um caldo de caos social que
irá a breve trecho explodir em tragédias ateadas por todo o lado e a pôr em
causa os equilíbrios políticos e sociais existentes.
Vai ser pior para
todos e a própria Igreja irá sofrer sobremaneira com tudo o que anda a ajudar a
semear, em vez de tentar pôr tento nas parvoeiras políticas e cobardia moral
que abundam no continente europeu.
A Igreja não pode
ter medo. A Igreja ao aplicar o Evangelho como o está a fazer à vaga de
migrantes, irá ficar sem Evangelho e sem Apóstolos…
Vejam as coisas
desta maneira:
Sua Santidade o
Papa “levita” acima da crosta terrestre devido à transcendência Divina da sua
missão e à relação privilegiada que detém com a Terceira Pessoa da Trindade,
que o inspirará em termos de Fé e da interpretação das Escrituras.
E está ligado à
Terra através da Santa Sé – às vezes até demasiado ligado (o que não deixou de
originar lutas de criar bicho).
Mas agora,
aparentemente “levitam” os dois, Papa e Santa Sé.
Talvez tenham a
noção de não terem ninguém que os defenda (tirando o poder da oração):
Lutero arrastou
metade da Europa dividindo a Cristandade (até hoje) irremediavelmente; um rei
devasso, algo viciado em casa/descasa e em mandar cortar cabeças na Torre de
Londres, inventou uma Igreja à margem de Roma; ao Cristianíssimo Rei de França,
guilhotinaram-no nos idos de uma Revolução insana e a França nunca mais atinou;
a Áustria está reduzida à ínfima espécie; Sua Mui Católica Majestade tem a
Marinha no fundo do mar, desde Trafalgar; vive rodeado de anarcas que o querem depor
e tenta a todo o custo manter colados com mais ou menos cuspo, as diferentes
nações do seu Reino; o Garibaldi acabou com a ajuda das italianíssimas
repúblicas (que, aliás, nunca foi grande coisa) e a Nação Fidelíssima (que somos
nós) já não tem Rei que responda a nenhum apelo de cruzada (nem a nada…).
Convenhamos que o
pequeno batalhão da Guarda Suíça, sito no Vaticano, é curto para tantos perigos
– deve até andar entretidíssimo a vigiar os muçulmanos convidados a habitar o
espaço onde Pedro foi crucificado. Não imagino o que ele possa pensar de tal
facto.
Temos porém
esperança, que para o ano, durante a peregrinação do Sumo Pontífice, a Fátima,
Maria, Padroeira da nossa terra, se condoa de nós, não tolere mais disparates e
faça um outro qualquer milagre.
Bem precisamos.
Como disse
Aristóteles, a nossa cultura (civilização) está a extinguir-se.
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador