quinta-feira, 18 de agosto de 2016

SERÁ A “TOLERÂNCIA “ A ANTECAMARA DA MORTE?







SERÁ A “TOLERÂNCIA “ A ANTECAMARA DA MORTE?
17/08/16
“Há três passos para a extinção de qualquer cultura:
1º A exagerada idealização da tolerância;
2º A instalação da apatia, o desinteresse geral;
3º A perda da razão de existência.”
Aristóteles (Tutor de Alexandre, o Grande).

Não há nada como começar por definir os termos em questão. Assim, por “tolerância” (do latim “tolerantia”) verificámos significar, indulgência, condescendência, complacência, transigência, qualidade de tolerante.
Já “tolerante” (lat. “tolerante”) é aquele que tolera ou desculpa; condescendente, indulgente, complacente, benigno.
E aquilo que é “tolerável” (lat. “tolerabile”) representa o que se pode tolerar, digno de indulgência, sofrível, passável. [1]
Em termos históricos o conceito de tolerância terá sido “ressuscitado” por alturas do século XVI, por causa das guerras religiosas, entre católicos e protestantes, que ensanguentaram a Europa.
Se há tema politicamente incorrecto na actual “civilização” ocidental este é seguramente um deles, até porque está directamente ligado, modernamente, ao malfadado conceito do relativismo moral e ao multiculturalismo.
Talvez apenas exista um tabu que se lhe assemelhe, o de falar em tudo o que esteja relacionado com judeus, judaísmo e sionismo.
Vamos ficar pelo primeiro e tentar definir-lhe o âmbito.
De facto o conceito de tolerância pode aplicar-se a todos os âmbitos da vida em sociedade, desde a Política, à Religião, da tolerância técnica (margem de erro aceitável) à Farmacologia (tolerância a medicamentos), às relações de trabalho, etc., ou às simples relações sociais - a mais comum.
Nestas existirá, à partida, certo grau de intolerância generalizada, quanto a práticas que ofendam os Dez Mandamentos, violem as leis existentes (mesmo estas têm margem de tolerância diferenciada), traição, etc.
A tolerância tem o seu âmbito mais elementar nas relações pessoais em sociedade e pode definir-se pelo grau de aceitação e inclusão que uma pessoa que saia fora da norma – entendendo-se os costumes em uso numa dada época – venha a ter.
O próprio bom senso devia regular estas relações, por exemplo: se o meu vizinho não gosta de batatas a mim não me custa nada tolerar tal facto; as coisas mudam de figura se ele me quiser impor que eu também não goste dos tubérculos ou, pior ainda, que eu não possa comê-los – o que se pode extrapolar, também por exemplo, para a guerra que um grupo de “intolerantes” pretende fazer com as touradas - ou me queira impor decibéis acima de 90, entre as quatro e as seis da manhã.
Mesmo assim eu ainda posso tolerar o barulho caso me afecte apenas a mim e não me importar com o ónus. O caso muda de figura se a minha família for atingida, já que tenho o dever de a defender. O mesmo se deve passar com as autoridades do Estado, quando os assuntos passam para esse nível.
Os exemplos podiam multiplicar-se.
Uma regra de ouro deve aplicar-se em todos os níveis onde se aplique a tolerância: a reciprocidade.
Daí não fazer sentido por exemplo, que os países cristãos permitam a existência (nalguns casos maciça) de mesquitas e direito de pregação e não haja a correspondente reciprocidade por parte de países de maioria muçulmana…
Mas, independentemente da reciprocidade existente há um sem número de coisas que não se podem tolerar: que os filhos batam nos pais; que os alunos maltratem os professores; que o vulgo tenha relações sexuais na via pública; que os drogados mostrem as suas mazelas na televisão; que digam mal da minha mãe; que se jogue à batota nos clubes de oficiais, sargentos ou praças; etc.
A lista não acaba.
Tornou-se mais curta, porém, por via da falta de censura social, derivada do desvirtuamento de princípios e, ou, da cobardia geral.
É esta falta de censura social, que exponenciou a pornografia; o vício; a homossexualidade; a droga (ao mesmo tempo que se instaurou um fanatismo contra o tabaco!); o desregramento familiar; urinar na rua ou, simplesmente deixar que os comunistas falem em democracia e liberdade, sem levarem logo com um pano encharcado na cara!
                                                                  *****
“A tolerância é a filha da dúvida”.
Erich Remarque

“Há um limite em que a tolerância deixa de ser uma virtude.”
Edmund Burke

A coisa complica-se quando a questão da tolerância passa para o âmbito da Moral, da Cultura, da Religião e da Política.
Aqui as coisas podem tomar o caminho apontado por Aristóteles e assistir-se ao fim de uma civilização, cujo exemplo mais conhecido é o da queda do Império Romano do Ocidente, seguido do Império do Oriente!
E é bom lembrar o mestre de Aristóteles, Platão, que alertou: “Quando um povo escorrega para o caminho da Democracia encontrará uma bifurcação, ou vai para uma ditadura ou directamente para o seu desaparecimento”.
A História de Portugal desde 1820 tem sido quase cópia decalcada deste enunciado…
Uma moral, uma cultura, uma religião ou uma política, que tudo tolera, deixa de acreditar em si, nos seus valores, tradições e esteios. Deixa de lutar e encolhe os ombros: passa a ser complacente. Daí verga, dobra-se e deixa-se subjugar.
A Europa – ou seja os países que a compõem – está quase a atingir o fim deste caminho.
Não é por acaso que, ainda como exemplo, a Igreja Católica, a Maçonaria e os Partidos Comunistas, são mutuamente exclusivos entre si. Onde é que neste caso se pode falar de tolerância?
O que pode ou deve, então, ser tolerado? Como definir os limites da tolerância?
Diria que o que pode ser tolerado não deve ofender os princípios e os valores fundamentais de uma sociedade, os símbolos dos países e das instituições; a honra de cada um; a dignidade nacional; a moral pública; o “Deus” dos outros; a verdade, a justiça, etc.
A tolerância pára no limiar do crime…
E, tão pouco, todas as opiniões são toleráveis ou devem ser toleradas, pois algumas não são respeitáveis! Dizer o contrário pode ser social ou politicamente correcto, mas não passa de uma falácia.
Como dizia Jean Rortand “ter um espírito aberto não é tê-lo escancarado a todas as tolices”.
Outra questão assaz pertinente tem a ver até que grau a tolerância vai afectar aquilo em que acredito, mesmo que não signifique aceitar o que se tolera…
Tão pouco se deve confundir tolerância com respeito: eu posso respeitar o costume que os beduínos têm de comer com as mãos, mas isso não me obriga a tolerar que tal aconteça em minha casa.
Para já não citar Roger Gard “uma convicção que começa por admitir a legitimidade de outra convicção adversa, condena-se à ineficácia”.
Se eu tolerar uma ideia, ou um estado de coisas que me contrariam, eu vergo-me, deixo de acreditar; deixo de lutar, serei no limite, absorvido, escravizado ou submetido: por outrem, por factos ou circunstâncias.
Quando tal passar para o nível dos países ou das civilizações, estas entram inevitavelmente em declínio e podem desparecer. É o que está a acontecer com a civilização ocidental, nomeadamente a europeia, caracterizada nos seus fundamentos pela Razão Grega, o Direito Romano e o Cristianismo.
Os germes da decadência começaram e expandiram-se, justamente por se ter começado a abandonar estas raízes. Porquê? Porque a partir do século XVIII – o chamado “século das luzes” (também do abuso do juro e da usura), o que passou a dominar na Europa tenham sido as ideias do Positivismo, em detrimento do Direito Natural; o império da razão e da ciência em vez da Fé; o laicismo e a centralidade da vida viraram 180º, isto é, do Teocentrismo (centrado em Deus) em favor do Androcentrismo (centrado no homem).
Daqui ao Homem querer ser o seu próprio Deus, foi um fósforo…
Ora quem passou a defender e a veicular tudo isto, foi a Maçonaria, uma organização que virou especulativa e se mostrou à luz do dia em 1717, faz para o ano 300 anos.
Irá certamente, haver festejos, mas “discretos”, como convém. Ninguém sabe ao certo (nem eles) a origem desta organização de que as pessoas só falam à boca pequena e que vive no maior secretismo. Ora a nível de um Estado e por maioria de razão, um Estado - Nação, não é admissível haver organizações secretas, a não ser aquelas criadas e sustentadas pelo próprio Estado (supondo que é a emanação da Nação politicamente organizada), para a defesa e salvaguarda da segurança desse mesmo Estado e respectiva Nação.
Ora não é nada disto que se passa com a Maçonaria, nem com as “maçonarias financeiras” e de poder, que se lhes seguiram, no século XX.
A Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade não passam por isso de uma falácia, pois a liberdade sendo um conceito absoluto é de aplicação relativa; a igualdade é uma mentira monumental e a fraternidade resulta apenas numa amarra aglutinadora de quem é membro do clube.
Tudo o resto serve par iludir a figura de gato-sapato, que fizeram da Democracia, leia-se, como legitimar, iludindo, o exercício do Poder.
Mas isto representa outro patamar de discussão.
Quanto à “tolerância”, importa dar alguns exemplos, para colocar a questão ao nível do que pretendemos ilustrar.
O exemplo mais actual e expressivo, a nível social, é o caso dos homossexuais.
De “maricas e fufas” (termos reprobatórios da gíria popular) passaram a “gays”, um termo “respeitável” e de salão.
De ostracizados e, por vezes, perseguidos, passaram a tolerados ou indiferentes; daí a afirmativos; depois a incentivados e agora querem impor-se e trazer para a via pública aquilo que é da esfera privada.
Já estou como o outro: vou-me embora antes que seja obrigatório! (Resta saber é para onde!).
Querem - e têm conseguido - legitimar uma aberração da natureza (o que lhe vamos chamar?), de que eles não têm, à partida, culpa (mas não deixa de ser uma aberração), de modo a subverter as leis naturais da sociedade, da família, do casamento e da procriação.
Enquistam-se em “lóbis”; infiltram-se em funções e até profissões, e tudo isto nas barbas da mais estúpida “tolerância”…
Não querem ter filhos naturais mas exigem que lhos demos artificialmente, e um dia destes exigirão um sistema de quotas para cargos e funções, ao passo que os ensaios delirantes de educação sexual nas escolas públicas deviam ser considerados um crime público!
Afirmam-se e intimidam, pelo nojo das marchas de orgulho "gay" (importam-se de tolerar que ache aquilo um nojo?) e já se chegou ao cúmulo de se blindarem com leis de delito de opinião (por exemplo, na Bélgica) de modo a que não se possa criticá-los!
A coisa passou do “tolerável” a escabrosa (oito ou 80), estando uma parte considerável da população já rendida e derrotada.
                                                               *****
“Um povo que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente anunciados.”
Bento XVI
Lisboa, 12 de Maio de 2010
               
O derradeiro exemplo é o da Igreja Católica.
A tolerância pregada e assumida pode ser o fim da Igreja. Não que a Igreja não tenha que ser tolerante para com as outras religiões e não possa ou deva comunicar com elas; o mesmo se passando para com os indivíduos que não sejam do seu credo, ou não tenham credo algum.
Mas não pode ser tolerante para com as ideias que não sejam as suas; que ponham em causa os seus princípios, o seu Evangelho.
Não pode ser tolerante contra si própria! Confundir estes dois planos vai – e já está – a custar-lhe caro.
Se continuarem nesta senda tal irá levar à sua exaurição e irrelevância, pois será a própria hierarquia da Igreja que deixará de acreditar na sua Fé e no que anda cá a fazer!
E não podem aceitar de modo algum, complacência com o relativismo moral, o moderno cancro que subverte a sociedade, nomeadamente aquelas de cultura ocidental.
A tolerância relativamente a Princípios e Doutrina devem ser mutuamente exclusivos. Aí a luta tem que ser radical. Não contra o outro, mas sim contra a ideia do outro e a seu favor!
A Igreja passa agora o tempo a pedir desculpa: do que fez, do que não fez, do que devia ter feito, tudo. Só falta pedir desculpa por existir.
Pedir desculpa não tem mal nenhum, quando é o reconhecimento de um erro e demonstra lucidez e humildade.
Mas “que diabo” convinha ter algum senso a fazer as coisas como, por exemplo, enquadrar os eventos e equilibrar o passivo com o activo.
E como o seu exemplo não tem arrastado mais nenhuma outra entidade, instituição ou religião, a fazer o mesmo relativamente aos seus erros e, ou, crimes, parece que só a Igreja é que é culpada de todos os males do mundo!
Eis mais uma questão em que havia de haver reciprocidade…
Outro âmbito onde a Santa Sé tem falhado redondamente é na actual crise dos “Migrantes”.
A Santa Sé e Sua Santidade andam a confundir questões humanitárias com problemas geopolíticos – e estes são gravíssimos.
A Igreja devia limitar-se à misericórdia e ao apoio humanitário, na desgraça que tudo isto representa, na medida das suas possibilidades. Não devia, de todo, pela sua acção de magnanimidade irrestrita, estar a ajudar a um caldo de caos social que irá a breve trecho explodir em tragédias ateadas por todo o lado e a pôr em causa os equilíbrios políticos e sociais existentes.
Vai ser pior para todos e a própria Igreja irá sofrer sobremaneira com tudo o que anda a ajudar a semear, em vez de tentar pôr tento nas parvoeiras políticas e cobardia moral que abundam no continente europeu.
A Igreja não pode ter medo. A Igreja ao aplicar o Evangelho como o está a fazer à vaga de migrantes, irá ficar sem Evangelho e sem Apóstolos…
Vejam as coisas desta maneira:
Sua Santidade o Papa “levita” acima da crosta terrestre devido à transcendência Divina da sua missão e à relação privilegiada que detém com a Terceira Pessoa da Trindade, que o inspirará em termos de Fé e da interpretação das Escrituras.
E está ligado à Terra através da Santa Sé – às vezes até demasiado ligado (o que não deixou de originar lutas de criar bicho).
Mas agora, aparentemente “levitam” os dois, Papa e Santa Sé.
Talvez tenham a noção de não terem ninguém que os defenda (tirando o poder da oração):
Lutero arrastou metade da Europa dividindo a Cristandade (até hoje) irremediavelmente; um rei devasso, algo viciado em casa/descasa e em mandar cortar cabeças na Torre de Londres, inventou uma Igreja à margem de Roma; ao Cristianíssimo Rei de França, guilhotinaram-no nos idos de uma Revolução insana e a França nunca mais atinou; a Áustria está reduzida à ínfima espécie; Sua Mui Católica Majestade tem a Marinha no fundo do mar, desde Trafalgar; vive rodeado de anarcas que o querem depor e tenta a todo o custo manter colados com mais ou menos cuspo, as diferentes nações do seu Reino; o Garibaldi acabou com a ajuda das italianíssimas repúblicas (que, aliás, nunca foi grande coisa) e a Nação Fidelíssima (que somos nós) já não tem Rei que responda a nenhum apelo de cruzada (nem a nada…).
Convenhamos que o pequeno batalhão da Guarda Suíça, sito no Vaticano, é curto para tantos perigos – deve até andar entretidíssimo a vigiar os muçulmanos convidados a habitar o espaço onde Pedro foi crucificado. Não imagino o que ele possa pensar de tal facto.
Temos porém esperança, que para o ano, durante a peregrinação do Sumo Pontífice, a Fátima, Maria, Padroeira da nossa terra, se condoa de nós, não tolere mais disparates e faça um outro qualquer milagre.
Bem precisamos.
Como disse Aristóteles, a nossa cultura (civilização) está a extinguir-se.


                                                                           João José Brandão Ferreira
                                                                                 Oficial Piloto Aviador


[1] Pinheiro, Eduardo, “Dicionário da Língua Portuguesa”, Livraria Figueirinhas, Porto, 3ª Edição.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

INSTITUIÇÃO MILITAR: A ORGANIZAÇÃO SOCIAL E PROFISSIONAL MAIS PERFEITA

INSTITUIÇÃO MILITAR: A ORGANIZAÇÃO SOCIAL E PROFISSIONAL MAIS PERFEITA

06/08/16

“Todos sabem os apuros financeiros do país
e sabem por igual que, para segurar o Poder
por mais dois ou três anos, V. Exª e o gabinete
a que preside não hesitarão em sacrificar o futuro”.
Mouzinho de Albuquerque.
(Carta ao Presidente do Conselho de Ministros, 23/7/1898).



Isto é, era, pois andam a destrui-la aceleradamente…
Face a esta afirmação estrambólica para o “politicamente correcto” cumpre justifica-la.
Aviso prévio, não falaremos em Forças Armadas (FA), mas sim em Instituição Militar (IM).
A diferença é de substância, já que a IM é o “invólucro” onde existem as FA; representa a perenidade de uma instituição nacional, por excelência e não apenas uma força táctico/estratégica de circunstância; representando, outrossim, o repositório material, espiritual e institucional dos diferentes corpos armados da Nação, desde a sua fundação, incorporando ainda toda a “família militar”.
Uma noção que a própria maioria dos militares deixou de entender e assumir.
Porque é que então as FA e a IM representam a melhor e mais avançada organização social e profissional, existente no País? Simples:
* Pela sua antiguidade;
* Por não ser democrática;
* Por ter traços de democraticidade orgânica e avançada;
* Pelas características da condição militar.
Vamos “investigar” um pouco cada um destes “item”.
A antiguidade (que na tropa é, desde logo, um posto) perde-se nos tempos dos impérios antigos. Fixemos, porém, o Império Romano, que elevou a organização militar a apuros nunca antes vistos, sendo necessários 1000 anos, depois do seu desaparecimento, para que se criasse – por alturas de Gustavo Adolfo, na Suécia – algo que se lhe pudesse assemelhar.
Ou seja a IM é uma organização muito antiga (não velha, pois está sempre a renovar-se), com princípios, regras, estrutura, comando, táctica, logística, etc. muitíssimo ponderados e testados, a que a evolução tecnológica obriga a um repensar constante.
Já passou por tudo…
A própria Igreja, certamente, se inspirou no seu modelo…
O facto da estrutura, organização, escolha das chefias e modelo da tomada de decisão, não ser democrático, isto é, não ser baseado em eleições ou votos, é da máxima relevância.
De facto a demagogia das campanhas eleitorais, em que se elegem pessoas mais ou menos adequadas (por norma, menos) para uma função, votadas por uma maioria de pessoas, mal preparadas e ignorantes sobre o fulcro das questões em jogo, não cabe no âmbito das FA e da IM!
As decisões são tomadas por uma cadeia hierárquica rígida, servida por oficiais e sargentos devidamente preparados, e promovidos segundo regras de todos conhecidas.
Como se consegue tudo isto?
Pois tendo-se criado uma estrutura em que é a própria IM (cada Ramo das FA) que recruta, seleciona, instrói, treina e comanda em operações, todos os seus servidores, possuindo os meios logísticos, de gestão de pessoal, saúde, ensino, disciplina, justiça e apoio social, para o cabal cumprimento de todas estas tarefas.
A IM acompanha, assim, todos os seus elementos desde o dia em que são incorporados, até ao dia do seu funeral, o qual inclui as respectivas honras militares.
Não existe fórmula de integração, profissionalismo, enquadramento ético, deontológico e social, mais avançado no mundo, do que este!
Por outro lado a convivência dentro da própria IM, possui traços de democraticidade que não existem em mais lado nenhum.
Os diferentes estilos de liderança são estudados para serem aplicados segundo as circunstâncias, numa modalidade dinâmica, mas sempre com regras em que o princípio fundamental da autoridade recai sempre no mais graduado/antigo, já que a autoridade é indissociável da responsabilidade.
Comandar vem do latim “cum + mandare”, que quer dizer mandar com os outros, sendo este o princípio mais largamente seguido, sem pôr em causa que em situações que impliquem uma decisão rápida, o comandante decida sem consulta, isto é, dá simplesmente uma ordem.
Por outro lado, superiores e subordinados não estão ao “serviço” uns dos outros, nem de ninguém, estão, isso sim, todos ao serviço; as leis e os regulamentos aplicam-se de igual modo e indiscriminadamente a todos os militares, independentemente do seu posto, graduação ou função e as relações entre todos são biunívocas, ou seja existe uma reciprocidade de direitos, deveres e comportamentos.
Dou um exemplo: quando um soldado faz continência a um sargento, fá-lo porque é seu dever fazê-lo, pois o sargento tem direito a esse acto de saudação, cumprimento e disciplina. Porém,
o sargento deve retribuir a continência, pois é seu dever fazê-lo, já que o soldado tem direito a essa retribuição.
O princípio da Hierarquia é mantido por quem faz primeiro.
Onde é que há um exemplo comparável na sociedade civil, ou nos organismos do Estado?
Finalmente pelas características da Condição Militar.
Neste âmbito são desnecessárias e perniciosas quaisquer organizações sindicais ou patronais; pura e simplesmente não fazem sentido nem falta e não vou perder tempo a explicar porquê.
Por outro lado um militar não trabalha, presta serviço, o que é muito diferente do que ter um contrato de emprego. Não tem horário de trabalho, mas sim, e quando possível, um horário normal de serviço – actua quando é preciso, descansa quando pode…
Um militar não vai de férias, ausenta-se temporariamente de licença e nunca fica desligado do serviço.
Um militar “É”, não se limita a “Estar”. Isto é, assume e intui os objectivos e missões da IM e faz deles, seus, integrando-se e assimilando a matriz da IM e os seus usos, tradições e cerimonial.
Não tem nada a ver com ser-se “funcionário público de manga - de - alpaca”, ou simples tarefeiro a troco de cobres.
Na vida militar os deveres antecipam e preferem, aos direitos e o conjunto sobrepõem-se ao individuo: um Exército vive, treina e combate em equipa, não é cada um para seu lado…
Quando se olha para um militar fardado, imediatamente se identifica o seu lugar, estatuto e autoridade, dentro da IM; as suas funções estão definidas e tudo se encontra escrito e detalhado.
Tudo isto gera uma ordem. A ordem liberta mais do que oprime.
O sistema de Justiça e Disciplina tem de ser claro, objectivo, rápido e adaptado ao meio e missão: ou seja é incompatível com os procedimentos em uso na sociedade civil. Quer dizer, deve ter um foro próprio.
Mesmo as recompensas que devem ser retiradas do valor, estão integradas na carreira do próprio militar e não são pecuniárias (a não ser as inerentes à promoção); não existem “prémios de gestão, ou de produtividade; distribuição de dividendos; comissões de negócios, ou quejandos.
Nem sequer tem visibilidade pública, já que um militar é um ser discreto e as suas missões são cumpridas sem alardes, muitas vezes com a incompreensão dos titulares dos órgãos do Estado, opinião pública e publicada.
Premeia-se o militar com louvores e condecorações, por prestação de mérito no serviço. Muitas vezes apenas com duas palavras e uma palmada nas costas, ou nem isso…
Toda a acção e pensamento estão orientados para o cumprimento da “Missão” principal: criar dissuasão e se necessário combater, de modo a defender e preservar a integridade do território, a unidade do Estado e a segurança das populações.
Esta missão é ainda servida de baias éticas e deontológicas – as mais exigentes em todas as profissões – de modo a tentar garantir que tudo decorra no sentido do BEM.
Tal é complementado pela inculcação, naqueles que entram na vida castrense, das chamadas “virtudes militares” cujo conjunto representa um verdadeiro código de valores das FA.
Poderá parecer que tudo o que atrás se disse é muito exigente, sobretudo em tempo de paz, como alguns ingénuos (e outros nada ingénuos), de quando em vez, propalam?
A resposta é um rotundo não! Os militares existem para operar – no que têm uma grande probabilidade de morrer ou ficarem estropiados – no cenário mais difícil e complexo que existe à face da terra: o campo de batalha, onde têm que ser capazes de gerir o caos no meio da maior violência, dor, sofrimento e destruição. Dá para entender?
*****
Já por várias vezes, e ao longo dos séculos, políticos, ideologias, totós e adiantados mentais, etc., quiseram pôr em causa todos estes princípios basilares que apontei. Os comunistas chegaram até a inventar uma hierarquia paralela de comissários políticos…
Sem embargo nenhum outro modelo prosperou, só causando desgraças e retornando tudo à antiga, pouco tempo depois…
Em 1974, Portugal dispunha de uma IM com as características que acima apontei. Não era perfeita, mas existia dentro dessa matriz.
Era, seguramente, uma das melhores do mundo e demonstrou-o em combate e na sustentação desse combate.
Hoje está um corpo esquálido, sem viço, perigosamente diminuída no seu potencial, rarefeita em efectivos e com o Moral – que é o mais importante - muito afectado (não confundir com a Moral). E com um enquadramento legislativo e político que tem, sistematicamente, posto em causa os seus fundamentos.
Tive a Honra e o privilégio de ter feito parte da antiga IM e tenho passado o calvário da amargura, de ter cumprido a maior parte do meu serviço activo, reserva e reforma, naquilo em que a mesma se foi transformando.
Como Mouzinho de Albuquerque, que passou o resto da vida a suspirar por um momento idêntico ao que passara na véspera de Natal que antecedeu Chaimite, até que suicidou por enfado e nojo.
Com que alegria eu me iria alistar novamente nas fileiras que me formaram!
Mas não vai poder ser.
Ao contrário de Joaquim Mouzinho não penso, todavia, em suicidar-me.
Vão ter mesmo que me aturar até ao fim.



João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador

ALJUBARROTA VIVE?


EFEMÉRIDE
ALJUBARROTA VIVE?
14/08/16
“Aljubarrota, Exmº Senhor não é um acto isolado na história de Portugal e pode repetir-se sempre que haja um governo consciente da sua missão e saiba pôr acima dos interesses particulares o interesse nacional e não faça da cobardia uma virtude cívica.”
General Gomes da Costa, 15 de Agosto de 1925.
Passam hoje 631 anos, que o Exército Português, pequeno em meios, mas grande na alma, esmagou o poderoso exército castelhano e gascão, na luminosa tarde desse longínquo 14 de Agosto.
Conseguiu-o com a graça de Deus e o valor dos seus soldados e chefes.
Comandava a hoste aquele que viria a ficar na História como o Rei de “Boa Memória”, e o seu talentoso Condestável, o “grande” D. Nuno Álvares Pereira, canonizado em 2009, com o nome de São Nuno de Santa Maria.
A escolha do ponto de expectativa estratégica, onde se concentraram as tropas, Abrantes – um verdadeiro ”umbigo” do País – permitiu a melhor vigilância do teatro de operações e dos objectivos possíveis e, por isso, constituiu a melhor opção para a tomada de decisões.
Mas foi a audácia e determinação do jovem Nuno, que decidiu a contenda ao forçar a dar combate e cortar o passo ao Rei de Castela que, naturalmente, se dirigia a Lisboa, e à sua competência técnica e táctica, na escolha e organização do local onde se travaria a batalha e, com isso, ter anulado a vantagem numérica do inimigo.
Em cerca de 30 minutos tudo estava resolvido e os castelhanos e gascões estavam em debandada, tendo muitos deixado lá os ossos e muitos mais provado o sangue, o suor e o pó do combate!
Foram-se em luto e em vergonha, mas depois disso e até hoje, tentaram voltar muitas mais vezes.
E não só pela força das armas, como é demonstrado pelas acções capciosas da economia, cultura e, sobretudo, financeiras, contemporâneas.
Aljubarrota foi importante?
Não, foi decisiva.
Não fora a vitória nessa, para sempre gloriosa, jornada, e hoje seriamos completamente diferentes do que somos. E não seriamos melhores.
Como afirmou Fernando Pessoa, “os espanhóis, nossos absolutos contrários”…
O magnífico mosteiro de Santa Maria da Vitória – vulgo Batalha – aí está para eternizar o evento, já que a juventude portuguesa deixou de saber o que se passou e seu significado.
Os pais e professores (já nem falo na cáfila política) deixaram de lhes ensinar seja o que for sobre a História de seus avós. É uma coisa terrível.
Até o Exército deixou de comemorar condignamente a data, apesar da mesma representar o “Dia da Infantaria Portuguesa” e o seu imorredoiro Patrono, que sendo um nobre cavaleiro, apeou para combater, pois tal melhor se coadunava com as características do terreno e da ordem de batalha.
Estimo que a infantaria portuguesa (enfim, o que resta dela) nunca perca de vista os exemplos daqueles que lhes servem de modelo, para que se possa sempre cobrir da glória de bem - fazer, e nunca de opróbrio.
Aos heróis de Aljubarrota:
APRESENTAR ARMAS!


                                                            João José Brandão Ferreira

                                                                 Oficial Piloto Aviador

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

AS VAGAS DE INCÊNDIOS

Sucedem-se, sucessivamente sem cessar…
 
A “crónica” de hoje vai ser curta e grossa.
Portugal nos últimos 40 anos, depois de ter resolvido mal os problemas que vinham do anterior (alguns, até tragicamente), ficou afectado por outros, que não consegue resolver minimamente, para não dizer que não consegue resolver. Ponto.
 
Entre muitos destacamos o equilíbrio financeiro; ter um plano sustentável para a economia; um sistema de ensino que sirva para alguma coisa (que não seja alimentar sindicatos); um sistema de Justiça, equilibrado, célere e adaptado à população sobre que vai incidir; a corrupção desenfreada; a bancarrota da segurança social; uma Diplomacia que não se limite a ser um mero exercício de relações públicas; as Forças Armadas a desaparecerem; o relativismo moral, militante, etc., etc..
Enfim ter uma Ideia para o país que queremos ser e uma estratégia que a concretize.
 
O país, entretanto, arde. E arde violenta e ciclicamente. 
Ora pergunta-se: se não conseguimos resolver um único problema e as notícias de portugueses a destacarem-se, vem sobretudo dos que estão emigrados, porque é que se haveria de resolver o problema dos fogos?
Apesar de todos poderem exprimir democraticamente, é claro, a sua democratíssima opinião!
Horas e horas de imagens de incêndios nas pantalhas – outro “negócio” que não ajuda nada; lamentos q.b.; prejuízos dantescos; mortes; debates aos pontapés; promessas de meios (quantas mais fizerem mais fogos haverá); jogos de estatísticas; declarações solenes do género “para o ano é que vai ser”, etc..
Resultado, chega-se ao ano seguinte, arde tudo outra vez. O ciclo repete-se.
É certo que a soma de acções a realizar, tanto na prevenção, como no combate, como no campo legislativo, é complexo e multifacetado. Mas há muito que se sabe tudo isto e também o que há a fazer.
A pergunta óbvia surge naturalmente: porque é que então não se faz praticamente nada de eficaz?
Por interesses instalados que ninguém tem ousado tocar (sim isto dos incêndios gera grandes negócios)? Por inépcia? Por incompetência? Por corrupção? Por cobardia? Porquê santo Deus?
O que levará tantos governos e tantos organismos envolvidos a terem um desempenho tão nefasto e medíocre, em todo este âmbito?
Parece óbvio que é por um conjunto de todas as razões apontadas e por não haver vontade política para fazer seja o que for. Não dá jeito, não dá votos, não dá comissões, não gera “amigos”…
O Presidente da República no meio do seu afã saltitão, de nenúfar em nenúfar e de sorrir para as “selfies”, à procura de afectos, não poderia tentar arranjar maneira (já que governos e partidos só se preocupam com votos e negócios), de fazer face a esta tragédia, que é uma espécie de peste dos tempos modernos e configura uma das piores formas de terrorismo?[1]
Enquanto não se decidem a fazer algo de útil pensem: Nada arde por si, muito menos à noite, a não ser por razões naturais raras.
Sabe-se que a maioria dos fogos tem origem criminosa; outros são por descuido ou negligência.
Os autores destes últimos têm que passar a ser responsabilizados e sofrer castigos sérios, e a ressarcir a comunidade com serviço cívico gratuito, durante um período alargado da sua vida.
Relativamente aos primeiros existem três tipos de casos: os tarados, os vingativos e os que são pagos para atear os fogos.
Os tarados têm que ser supervisados socialmente e quando detectados têm que recolher a uma instituição qualquer que lhes dê “uns banhos frios”; quando apanhados no vício tem que se responsabilizar também, as famílias para o caso de ter havido algum caso de incúria, ou encobrimento.

No entretanto, deve ser-lhes feito uma análise às cuecas a fim de se detectar esperma, o mesmo se fazendo aleatoriamente (como se faz para a droga) testes destes ao pessoal envolvido no combate a incêndios – parece que aos “apanhados do clima”, lhes dá para ter orgasmos…
Os vingativos são os que andam zangados com a vida, com o vizinho, com a falta de zonas de caça, por motivos de partilhas, etc.. Caiem simplesmente no âmbito do crime.
Os que são pagos, são-por via das causas acima apontadas e por isso são apenas criminosos.
Em síntese, tudo isto representa um caso contumaz de polícia.
Solução: dar ordem a todas as forças militares, militarizadas e de polícia para, no exercício das suas missões de segurança, ao verem um animal destes com a boca na botija, o abatam “in situ”; aos que escaparem vai ter que se lhes “apertar o pescoço” até vomitarem quem lhes pagou o acto, ou as razões porque o fizeram; e a seguir serão arrecadados com a pena máxima e passem o resto dos seus dias a limpar a floresta, fazer aceiros e a plantar árvores.
Tais medidas têm duas grandes vantagens (e estas sim, deviam passar nas televisões): evitava-se que os pirómanos depois de apanhados fossem soltos por “distúrbios mentais” ou serem “vítimas da Sociedade” e ataca-se o fogo no seu início que é a melhor maneira de ele terminar.
Entretanto talvez os putativos candidatos pensassem duas vezes, antes de virarem pirómanos.
Para grandes males, grandes remédios.

[1] “Vim dar o abraço de Portugal à Madeira”, PR “dixit”. E eu a julgar que a Madeira era Portugal! Ó Senhor Presidente…

terça-feira, 9 de agosto de 2016

A RECONQUISTA DE NAMBUANGONGO!

Faz hoje 55 anos que o Exército Português reconquistou a povoação de Nambuangongo, na região dos Dembos, norte de Angola, a 200 Km de Luanda, durante a operação “Viriato”.

O Batalhão de Caçadores 96, do comando do TCor Armando Maçanita, o Esquadrão de Cavalaria 149, comandado pelo Capitão Abrantes e o Batalhão de Caçadores 114, sob o comando do TCor Oliveira Rodrigues, convergiram para o objectivo em três eixos distintos.

O Batalhão 96 tinha o percurso mais longo e foi reforçado por um pelotão de Engenharia comandado pelo Alferes Jardim Gonçalves.

A tenacidade e capacidade de comando do TCor Maçanita, conseguiu que fosse a sua unidade aquela que primeiro entrou em Nambuangongo, erigida como quartel – general da banditagem terrorista da UPA, após penosa marcha, vários combates e quatro mortos.

Coube ao pelotão do Alferes Santana Pereira a honra de hastear a Bandeira Nacional Portuguesa na igreja semi-destruída da vila.

O TCor Maçanita morreu na sua cidade natal, Portimão, em 17/11/2005, com 88 anos de idade.

Honra aos combatentes

Viva Portugal
(Abaixo os traidores).