A REVERSÃO DAS
COISAS E O ANDAR AOS “SS”
21/01/16
“Para
lá dos Pirinéus existe um povo que não se governa nem se deixa governar …”
(Frase muito conhecida de um
general
romano, referindo-se
aos
Lusitanos…).
Agora – leia-se depois da tomada de
posse do actual governo – parece que querem reverter uma parte considerável, se
não a totalidade das medidas que o anterior executivo tomou.
Ele são os feriados – cuja cessação,
sobretudo o 1º de Dezembro, nunca devia ter ocorrido, os cortes nas pensões e
vencimentos – medida que se assemelhou a um esbulho, que a ser tomada deveria ter
ocorrido de cima para baixo e não ao contrário (de qualquer modo aquilo que
deve ser taxado, deve ser o consumo e não o trabalho); a reversão faseada das
taxas do IRS e do IVA – restando saber onde vão buscar receitas para pagar o
serviço da dívida; as medidas na educação que estavam a ir no bom sentido e
agora vão aumentar a desbunda – esta de ter havido 15 mudanças no sistema de
avaliação em 16 anos é digno de uma tragédia grega [1];
desbunda que também havia no controlo das contas do Serviço Nacional de Saúde –
onde alguns cortes e medidas por terem sido pouco amadurecidas, causaram naturais
estrangulamentos; o fim da reprivatização dos transportes públicos de Lisboa e
Porto (A TAP é um assunto mais complexo que se degradou e complicou durante 40
anos!) – que arriscam a ter consequências muito negativas no bolso dos
contribuintes e no investimento estrangeiro - além de continuar a permitir
mecanismos de Poder ao PCP, que há muito deviam ter sido eliminados; tudo isto
para não falar nas medidas de subversão da sociedade, tendentes a estabelecer
uma convivência amoral e bestial sob a capa dos direitos humanos e do
progressismo – seja lá o que isso for – que as novas forças dominantes no
Parlamento tiveram o cuidado de dar o mote ao darem a primazia, acabando com as
taxas moderadoras para as abortistas e permitirem que o "lobby" dos invertidos
fosse com a sua avante na legalização em adoptar crianças!
Vivemos (há muito) no tempo da
exaltação dos vícios e no apoucamento da virtude. Deve ser isso que se entende
por progressismo…
O que se passa é sintomatologia de
uma comunidade muito dividida, ignorante, doente e cansada que desliza, pelas
piores razões, para o amorfismo.
Sociedade ideal para o cinzentismo e
para as minorias de adiantados mentais poderem manobrar a seu bel - prazer.
Nenhum país pode andar
continuadamente aos “ss”, nem tantas visões antagónicas podem estar certas ou
erradas, ao mesmo tempo.
Não quer isto dizer que a evolução
não se possa e deva dar; ou que uma medida que se revele errada não tenha que
ser emendada, mas tal não pode ocorrer com a leviandade, frequência, entropia e
“saltos”, com que tem ocorrido entre nós.
E, estamos em crer, que tal tem
ocorrido por excesso de politiquice (“Política” é outra coisa), enormíssima
ignorância e desprezo pela geopolítica, inexistência militante de qualquer tipo
de Estratégia – parece que “imigrou” toda para o futebol onde, aliás, não tem
lugar – e na mais completa ausência de pensamento lógico, matéria sobre a qual a
comunidade lusa é particularmente relapsa.
A lógica parece resumir-se ao
“negócio” – onde por norma como já se viu, a Ética e a Moral estão ausentes –
pelo que a corrupção se espalhou como uma mancha de óleo e os escândalos se
sucedem nos “media”, os quais tendo “liberdade” de os publicar, tal é igual ao
litro, pois consequências muito poucas.
Parece que quando havia censura oficial, os
que se atreviam – e poucos se atreviam – iam presos primeiro e só depois é que
se sabia…
É por isso que mal as coisas parecem
encaminhadas para um governo, surtem “minas” a rebentar e lá se vão as boas
intenções…
Está-me, por exemplo, a vir à memória
o caso do Banif, que ainda ninguém conseguiu explicar porque é que levou tanto
tempo a resolver e deu na actual borrada.
Tendo dito que o actual governo
aparenta querer reverter tudo, eis senão quando topo com uma área em que não se
fala em reverter nada!
Já adivinharam qual é?
A Defesa, pois claro!
Ou seja temos que partir do princípio
que o anterior governo e o anterior, mais etc., fizeram tudo bem, pois o actual
nem se atreve a piar sobre o assunto.
Idos que foram a inefável – e agora
aliviada – Berta, a quem deram um bombom, para lhe adoçar a boca por ter
perdido as eleições regionais dos Açores; e o extraordinário Aguiar traço
Branco, cuja actuação suplantou de longe a de Epaminondas em Leuctra – só pode
– restam agora o Secretário Perestrello, a bisar (para ver se consegue levantar
a nota?) e o ilustre desconhecido nestas andanças, Ministro Azeredo Lopes que
deve andar a tirar a recruta.
E que para já tem tido o bom senso
de não abrir a boca, com a excepção de um discurso de circunstância numa visita
que fez, no Natal, por dever do ofício, à Companhia do Exército, que está no
Kosovo a defender um aborto imposto pela política externa americana e permitido
pela pusilanimidade dos países da UE.
Mesmo assim ainda exalou um “só
podem atacar em legitima defesa”, a uma pergunta parva de um jornalista…
Tem, porém, já na sua coluna do
“haver” a decisão de acabar com um “furúnculo” que não tinha razão alguma para
existir: um pequeno organismo que dava pelo nome de CARDN – comissão para o
acompanhamento da reforma da defesa nacional…
Tirando isto, temos que convir, que
o actual governo está, aparentemente, de acordo com os cortes miserabilistas
que têm sido feitos em tudo o que é militar e mexe; no congelamento atrabiliário
das promoções; na subversão da condição militar; do aborto implosivo e
dispendioso que conseguiram na Saúde Militar; no assalto miserável à chefia e
património do IASFA; ao fim do Instituto de Odivelas e à mudança de estatuto do
Colégio Militar; a eliminação do complemento de pensão de reforma até aos 70
anos, a redução das chefias militares a uma espécie de “eunucos de serralho”,
desprovidos de qualquer autoridade e relevância e mais um longo rol de asneiras
contumazes que já vêm de muito atrás.
A falta de interesse por este sector
fundamental da vida nacional vai ao ponto que se ilustra com o seguinte
pormenor curioso: o actual DGPDN, cuja única habilitação para a função era ser
amigo e conterrâneo do anterior ministro – após anulação de concurso público -
transitou para a actual equipa por também ser conhecido e conterrâneo do
ministro que entrou, com o pormenor delicioso de ter andado a gastar algum
pecúlio do erário público a visitar os seus homónimos de países amigos (atenção
que nós passámos a ser amigos de todos!), a fim de se despedir…
Esperemos que tal situação dure
apenas até o resultado do concurso público em curso, ter o seu desfecho.
Este (a Defesa) é o único âmbito,
caros concidadãos, em que tem havido consenso em todas as forças políticas (com
alguns desacordos pontuais por parte do PCP) e que se tem traduzido em reduzir,
destroçar, reduzir, subverter, reduzir, descaracterizar, reduzir, humilhar,
reduzir.
São estes os verbos em que a
actividade política relativamente às Forças Armadas – a Defesa apenas se reduz
a elas – tem sido conjugada.
A Defesa do país tem para os
políticos esta dimensão e para Portugal esta bitola.
Os militares, por seu turno, têm
sido uma mistura de ovelhas mansas a tosquiar, com o de tansos tolerados, mas
prontos para todo o serviço.
Simpáticos, estes políticos.
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
[1] O Ministério da Educação é talvez o maior cancro governativo que
existe em Portugal. E há muitos…