domingo, 15 de novembro de 2015

O 40º ANIVERSÁRIO DO 25 DE NOVEMBRO (DE 1975)



O 40º ANIVERSÁRIO DO 25 DE NOVEMBRO (DE 1975)

14/11/15


“Quem o inimigo poupa, às mãos lhe morre”.
Provérbio português (muito antigo).

Está à porta…
Mais uma vez os órgãos de soberania, não parecem estar tentados a comemorar o evento. E os órgãos de comunicação social, na sua esteira, usarão a lógica do politicamente correcto e noticiarão, maioritariamente, a efeméride com algum fastio.
Sem embargo, a data é de facto importante, uma das mais importantes do século XX português. [1]
A razão é simples, por ter afastado a hipótese – na altura muito real – de ser implantada uma ditadura comunista e “esquerdoíde”, em Lisboa e a Sul do Tejo.
No resto do país, incluindo ilhas, tal seria impossível.[2]
Tenho para mim, que todos os cursos de promoção a oficial superior e general (idem para os sargentos), não direi desde então, mas desde 1982, data da “normalização” da vida política nacional, com a extinção do Conselho da Revolução, do Pacto MFA-Partidos e a entrada em vigor da Lei 29/82 (Lei da Defesa Nacional e das Forças Armadas) – deveriam começar com a projecção de vários filmes, a saber: o cerco à Embaixada de Espanha e da Assembleia Constituinte[3]; o escabroso “juramento de bandeira”, de punho fechado, no Ralis, a 21/11/75, e a proclamação dos oficiais revolucionários, efectuada no dia anterior, do varandim do jardim do Palácio de Belém, fronteiro à Praça Afonso de Albuquerque.
Por último, o filme sobre a ocupação selvagem da Herdade da Torre Bela, ocorrida a 23/4/75.[4]
Tudo isto se passou no ano da graça de N.S.J.C., de 1975, mais propriamente entre o 11/3/75 e o 25/11/75, período conhecido como “Processo Revolucionário em Curso”(PREC), embora as suas raízes tivessem começado logo no dia 25 de Abril de 1974, data em que uma pequena percentagem da oficialidade decidiu tomar conta do Poder e substituir o regime então vigente (os sargentos e cabos não se envolveram na organização do golpe, ao contrário do que ocorreu, por ex., na implantação da República).
A razão por que defendo este início de actividades lectivas é simples: para que o corpo de oficiais e sargentos das Forças Armadas Portuguesas tome consciência do descalabro gigantesco; do grau de ignomínia alcançado e de como se destruiu uma Instituição Militar magnífica a qual, apenas poucos meses antes, tinha 230.000 homens, espalhados por quatro continentes e outros tantos oceanos, e se batia galharda e competentemente, em três teatros de operações distintos, separados por milhares de quilómetros entre si e a “Metrópole”, que era a sua base logística principal.
E faziam-no sem desfalecimento, há 13 anos.
Não há na História de Portugal, desde Afonso Henriques, feito que se lhe iguale.
Esta descida aos infernos – foi disso que se tratou – provocou em poucos meses, a quase destruição da Marinha, do Exército e da Força Aérea, sendo directamente responsável pela alienação em termos vergonhosos – nunca também historicamente igualados – de 95% do território nacional e 60% da sua população.
É fundamental que o corpo de oficiais e sargentos, tenha isto presente sempre, para que jamais permita que tal se possa repetir ou assemelhar!
Ainda hoje sinto profunda vergonha e revolta, por tudo o que se passou e a Instituição Militar não conseguiu até ao momento, recuperar de tudo o que ocorreu e dar-se ao respeito, e está a desaparecer em grande parte por causa disso.
Até porque não soube, não quis, ou não pôde, separar o trigo do joio justamente a seguir ao 25 de Novembro de 1975.
Tivemos, no fim, alguma sorte, pois a parte mais sã das Forças Armadas; a realidade geopolítica internacional, de então (estávamos prestes a atingir o último pico da Guerra Fria) e a índole do povo português, permitiu que as operações realizadas a 25 de Novembro de 1975 terminassem com a vitória do Bem sobre o Mal.
Foi sobretudo disso que se tratou!
Porém foi uma vitória parcial, em muitos casos, ilusória.
Vejamos:
É costume ouvir dizer-se que o 25/11 foi o marco que permitiu a concretização dos ideais de Abril.
A questão está mal colocada.
A realidade é que só se teve que fazer o 25/11 porque houve o 25/4…
O descalabro começou no próprio dia do golpe, quando os autores do mesmo, numa atitude de inacreditável ingenuidade e ignorância das realidades da geopolítica, da História e da natureza humana, deitaram tudo a perder, não declarando o estado de sítio, deixando, desse modo, vir a população para a rua.
De seguida, começaram a prender-se e a sanear-se, mutuamente, sem critério.
Tudo isto no meio duma guerra…
O resultado foi que os tais ideais de Abril – que tinham pouco a ver com os que acabaram por ficar nos livros de História – acabaram por ser consubstanciados no Programa do Movimento das Forças Armadas. Programa que nunca foi cumprido pela anarquia que se instalou no País.
Mas, após o 25/11, foi a vez das forças vencedoras revelarem quão pouco tinham aprendido com o que se tinha passado.
E permitiram que as forças causadoras de todos os males e que queriam objectivamente instaurar um estado totalitário no país, pela via revolucionária – ou seja, um conglomerado inacreditável de desvairados "esquerdoídes" e o Partido Comunista, que de português nunca teve nada – recolhessem em boa ordem de marcha, a quartéis e ganhassem, posteriormente, respeitabilidade democrática.[5]
Ora, devia ter-se aproveitado a ocasião para pura e simplesmente, proibir estas forças políticas de existirem à face da lei, pois isso era o mínimo que estas fariam a todos os outros, se porventura tivessem alcançado o Poder. Foi isso, aliás, o que fizeram, mais um rol extenso de barbaridades, que faz ter saudades do Tamerlão, sempre que tiveram oportunidade, e em qualquer parte do mundo.
E que se saiba, nenhuma dessas forças, até hoje, declarou publicamente ter renunciado a quaisquer práticas golpistas!
Sem embargo, não se coibiram de ilegalizar todos os partidos ou agrupamentos tidos por “Fascistas” – apesar de não haver nenhum, desde que o Professor Salazar esvaziou os nacionais sindicalistas de Rolo Preto, nos anos 30…
E deviam ter colocado, outrossim, atrás das grades, o então Presidente da República Costa Gomes, personalidade que até ao fim da vida andou, aparentemente, a fazer jogo duplo ou triplo com todo o mundo.
Em vez disso veio a ser promovido a Marechal…
Mais tarde veio-se a reintegrar todos aqueles que à esquerda, ao centro ou à direita tinham sido “saneados”, e com retroactivos (na tropa foram quase todos promovidos a coronel ou a sargento-chefe e até se abriu uma excepção para oficial general…) tudo se passando sem quaisquer julgamento e com critérios muito duvidosos. [6]
Ao invés, meteu-se tudo no mesmo saco e permitiram-se situações incríveis.
Tenta-se justificar esta actuação pela necessidade de apaziguar a sociedade portuguesa, mas não vejo como, gerar injustiças sobre injustiças, possa apaziguar seja o que for.
Alcandoraram-se (e condecoraram-se) uma cáfila de traidores, desertores e, até criminosos de delito comum, a funções de responsabilidade, com a justificação que combatiam a “ditadura” e o “fascismo”, confundindo conceitos e actuações, ou querendo fazer crer que na luta política vale tudo.
Despejaram em seguida subsídios para cima das pessoas; pois bem o país entrou em bancarrota e o dinheiro acabou.
A aceitação do PCP e dos "esquerdoídes", se assim lhes podemos chamar, na vida democrática, também é explicada pela necessidade de inclusão e pela “superioridade moral” da Democracia.
Ora isto parece-me tudo uma falácia, pois nem “eles” se querem incluir em coisa alguma; a sua prática enquanto poder nunca foi democrática (aliás o que é que se entende por Democracia?) e a sua ideologia é, provadamente incompetente, anti - natural e anti - humana.
Aqui não há, pois, superioridade moral, alguma, há é falta de senso, cobardia e estupidez!
E quase toda a gente embarcou nisto: os restantes partidos políticos – que não passam de aprendizes – de - feiticeiro, comparados com o PC – confiados não se sabe bem em quê, deixaram de fazer, sequer, luta ideológica, sobretudo a partir da queda do Muro de Berlim, em 1989;
A Instituição Militar foi sendo sucessivamente menorizada, desmontada e reduzida à ínfima espécie, e não conta hoje, para nada;
A Igreja é atacada no Ocidente por todos os lados, anda aperreada de receios e pouco firme nos princípios – precisa de apanhar um susto, para ver se acorda;
A Maçonaria está impante mas, como sempre também, minada por divisões de capela e por “irmãos” mais interessados em negócios, do que em rituais e trabalho de casa, além do que têm sido ultrapassados pela burocracia de Bruxelas, “Grupo de Bilderberg” e afins, e pelos poderes mais finos, do capital apátrida;
Os “parceiros sociais” entretêm-se em se anular uns aos outros, em vez de serem complementares;
Alguns “centros de reflexão” com gente preocupada e diferenciada têm, por norma pouca expressão, chovem no molhado, convertem convertidos, mas não dão as mãos em nada. Às vezes bicam-se.
Em comum, têm querer ser considerados bem comportados e refastelarem-se com umas garfadas, devidamente regadas.

A população, em geral, tem a memória curta – os jovens nem têm memória de nada! – e, por norma, não se querem chatear com coisa alguma;
Está feito o quadro.
A Nação Portuguesa, essa, anda à deriva e não se sente.
Como corolário do provérbio da citação inicial, o PC e os tais “esquerdoídes” – que odeiam tanto a sociedade que a querem andar sempre a mudar – estão 40 anos depois, (quase) no governo [7].
E condicionaram todos os anteriores.
Ainda hoje não se consegue mudar a Constituição, eivada de erros…
Pergunta-se: neste 40º aniversário do 25/11 – cuja vitória em termos militares, se deve essencialmente, às tropas “Comando” e às Esquadras de Voo, da Força Aérea – vai comemorar-se exactamente o quê?




                                                                     João José Brandão Ferreira
                                                                     Oficial Piloto Aviador


[1] As diferentes conferências e colóquios que tem havido um pouco por todo o país têm sido, ao que sei, da iniciativa de entidades da chamada sociedade civil.
[2] Enfim, nunca se sabe, os Liberais apenas tinham 7.000 homens e poucos navios e venceram a Esquadra Portuguesa de então e os 90.000 H de D. Miguel…
[3] Ocorridos, respectivamente, em 27/9/1975 e 12/11/75.
[4] O filme foi rodado entre 1975 e 1977, e realizado pelo alemão Thomas Harlan. É uma co - produção portuguesa, italiana e alemã e existem quatro versões. A versão final estreou no cinema “King”, em Lisboa, em 2/8/2007.
[5] O PCP, partido fundado em 1921, nunca foi um partido “português”, pois esteve sempre ao serviço de uma potência estrangeira, a União Soviética, que sempre foi hostil a Portugal. Foi um partido internacionalista, directamente controlado pelo chamado Partido Comunista da União Soviética (PCUS), até o regime dos Bolcheviques ter implodido, na época Gorbatchev. Regime que apoiava directamente os movimentos independentistas que nos emboscavam as tropas. Isto costuma ter um nome…
Aliás, o PC já podia (e devia) “encolher as unhas” pois a sua grande missão estava realizada: Portugal tinha saído miseravelmente de África e o poder entregue aos movimentos marxistas e apenas a esses.
[6] E, neste âmbito, não se tratava de julgar as pessoas pelos seus ideais políticos, mas quem tinha cometido crimes ou não se tivesse conduzido “pelos ditames da Virtude e da Honra”.
[7] Mal comparado, estamos a fazer o mesmo agora com a vaga de “migrantes”. Ou seja a deixá-los entrar em catadupa e sem critério. Daqui a (menos) 40 anos falaremos.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

"Programa do colóquio sobre Ceuta, organizado pela C.P.H.M., onde espero participar."

Comissão Portuguesa de História Militar


XXIV Colóquio de história militar

NOS 600 ANOS DA CONQUISTA DE CEUTA
PORTUGAL E A CRIAÇÃO DO PRIMEIRO SISTEMA MUNDIAL
PROGRAMA

17 DE NOVEMBRO

10H30 | SESSÃO SOLENE INAUGURAL
Presidida por sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional
Oradores:
Tenente-General Alexandre de Sousa Pinto
Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar
SExa. o Ministro da Defesa Nacional (a confirmar)
Entrega do Prémio Defesa Nacional 2014

11H45 | CONFERÊNCIA DE ABERTURA
Conferencista convidado
Arq. João Barros Matos
“Do mar contra a terra. Mazagão, Ceuta e Diu, primeiras fortalezas abaluartadas da expansão portuguesa”

12H30 - 14H30 | ALMOÇO
14H30 | I SESSÃO
Moderador:
Prof. Doutor Pedro Soares Martinez
Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Oradores:
Coronel Prof. Doutor Luís Alves de Fraga
A estratégia nacional portuguesa na definição de uma vocação nacional
(1415-1975)
Tenente-Coronel Mestre Abílio Lousada
“A reorganização do aparelho militar português no contexto da conquista de Ceuta e a transformação dos assuntos da guerra na Europa do século XV”
Coronel David Manuel de Matos Martelo
“Os velhos do Restelo”

18 DE NOVEMBRO
10H30 | II SESSÃO
Moderador:
General António Eduardo Q. Martins Barrento
Ex-Chefe do Estado-Maior do Exército
Membro efectivo do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar
Oradores:
Prof. Doutor João Gouveia Monteiro
“Luzes e sombras na operação militar da tomada de Ceuta, em 1415”
Dr. Vitor Viana Pinto
“Espionagem e transmissão de informação inteligente no Portugal da primeira metade do século XV - Ceuta um «estudo de caso» ”
-Mestre António Carlos Martins Costa
A renovação dos estudos de história militar portuguesa do século XV
13H00 - 14H30 | ALMOÇO
14H30 | III SESSÃO
Moderador:
Prof. Doutor Luís Aires Barros
Presidente da Academia das Ciências de Lisboa e Sociedade de Geografia de Lisboa
Oradores:
Mestre D.Elise Cardoso
“A logística militar à época da conquista de Ceuta”
Mestre Roger Lee de Jesus
“Abastecer a Guerra noutro Oceano: o Armazém das Armas de Goa em 1545-1546”
Coronel José Paulo Ribeiro Berger
“A Importância dos modelos no planeamento das operações militares – Conquista de Ceuta”
Tenente-Coronel Mestre João José Brandão Ferreira
“Ceuta: o início da escola de geopolítica portuguesa”

19 DE NOVEMBRO
10H30 | IV SESSÃO
Moderador:
Tenente-General António de Jesus Bispo
Membro efectivo do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar
Oradores:
Prof. Doutor Augusto Moutinho Borges
Construtores da muralha de Ceuta: S. João de Deus quotidiano, tempo e espaço
Dr. Jaime Regalado
“O Armamento de Fogo no Início da Expansão: O Estado da Arte em Portugal”
Mestre D. Inês Meira Araújo
“Um retrato das forças portuguesas em Marrocos: guerra e armamento (século XV)”

13H00 - 14H30 | ALMOÇO
14H30 | V SESSÃO
Moderador:
Prof. Doutora D. Manuela Mendonça
Presidente da Academia Portuguesa da História
Oradores:
Coronel Manuel Fernando Ribeiro da Silva
D. Pedro de Meneses - 1º Capitão de Ceuta
Mestre Nuno Simão Ferreira
“A missão militar chefiada pelo Brigadeiro Vasco de Carvalho a Ceuta, no ano de 1942”
Coronel Prof. Doutor Rui Carita
“A conquista de Ceuta e a génese da Expansão Europeia da época Moderna.
Ceuta e os capitães da ilha da Madeira”

20 DE NOVEMBRO
10H30 | VI SESSÃO
Moderador:
Almirante Nuno Vieira Matias
Presidente da Academia de Marinha
Oradores:
Dra. D. Maria de Jesus Pessanha Caimoto Duarte
A tomada de Ceuta. Avis uma dinastia messiânica?
Mestre António Pedro da Costa Mesquita de Brito
“O combate na prática e na teoria - As 'artes da guerra' renascentistas”
CMG José António Rodrigues Pereira
“De Ceuta para o Atlântico. As viagens de descobrimento sob a direcção do Infante D. Henrique”

13H00 | SESSÃO DE ENCERRAMENTO
Orador:
Tenente-General Alexandre de Sousa Pinto
“Nuno Álvares Pereira e a conquista de Ceuta”