“Nesses anos, quando um soldado português desembarcava de um dos barcos da sua Nação para servir num forte de Moçambique, ou em Malaca, ou nos estreitos de Java, já previa, durante o seu tempo de serviço, três cercos, durante os quais comeria erva e beberia urina. Estes defensores portugueses contribuíram para uma das mais corajosas resistências da História do mundo.”
James A. Michener (escritor americano)
No dia 22 de Julho passou o 60.º aniversário da morte heróica do Subchefe Aniceto do Rosário, da Polícia do Estado da Índia, ocorrido em 1954.
Tal evento deu-se quando bandos armados da União Indiana, à revelia dos bons costumes e violando grosseiramente o Direito Internacional, ocuparam os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, contíguos a Damão.
O Tenente Coronel Pedroso da Silva teve a iniciativa de sugerir à PSP a evocação da efeméride, o que esta acabou por fazer, acto a que dignamente se juntaram a delegação da Liga dos Combatentes de Pinhal Novo, e outros cidadãos, nomeadamente ex-alunos do Instituto Militar dos Pupilos do Exército – estabelecimento militar de ensino onde o órfão de Aniceto do Rosário veio estudar seis anos depois da morte de seu pai. A cerimónia teve lugar na praça que tem o nome do herói, junto à Penha de França, em Lisboa. [1]
Praça que, felizmente, sobreviveu à mudança de nomes que os desatinos políticos e sociais; as vinganças ideológicas e a má formação de muitos impuseram em vários locais, após o 25/4/74, e cujo expoente maior ocorreu com uma ponte inaugurada a 6/8/1966…
Sorte nossa, senão em vez de nos curvarmos respeitosamente perante tão subido nome, teríamos que virar a cara, compungidos e envergonhados de eventualmente termos de encarar com algum “revolucionário” de mau porte, inimigo manifesto da Nação dos Portugueses.
Para mal dos nossos pecados já quase ninguém conhece ou se lembra de Aniceto do Rosário. E, no entanto, ele pertence àquela imensa plêiade de portugueses que mantiveram o nome de Portugal, honrado, nos quatro cantos do mundo e elevaram bem alto a Bandeira das Quinas.
Não é de admirar que assim seja.
Nos últimos 40 anos para além de um ensino médio medíocre, sob todos os aspectos e onde se esbanjaram incontáveis milhões de contos e, sobretudo, euros, e do destroço da educação a nível das famílias, assistiu-se a um discurso político e mediático em que se elogiava a cobardia; se branqueou malfeitorias e se casquinou da Honra e do Pundonor.
Já nem vale a pena elaborar sobre os altares a que se elevaram traidores, desertores e até simples autores de delito comum.
Aniceto do Rosário não procedeu assim. Foi antes a sua antítese. Por isso é, para muitos, um mau exemplo…
Dois dias antes da invasão dos enclaves – que um Estado Português, sem discernimento e sem vergonha reconheceu “de jure”, em 1975 – o governador de Damão foi impedido de se dirigir a Dadrá, pelas autoridades indianas.
Aniceto do Rosário, natural de Diu, que chefiava uma pequena força policial de sete elementos, enviou ao governador a seguinte mensagem: “Parta V. Exª descansado que eu não deixarei ficar mal a bandeira portuguesa”. Disse e cumpriu.
Dois dias depois um bando de Sathyagraha (pretensos libertadores), à mistura com membros do Exército Indiano, entrou em Dadrá e exigiu a rendição da autoridade portuguesa. Aniceto do Rosário recusou e abriu fogo. Ferido, acabou por ser morto, à facada e a tiro, juntamente com o guarda António Fernandes.
A torpe ocupação de Dadrá e Nagar-Aveli constituiu a primeira acção violenta, por parte da União Indiana, que culminou na invasão de Goa, Damão e Diu, em 18/12/1961.[2]
Foi um longo calvário que começou logo após a independência da União Indiana, em 1947.
Pouco tempo passou para que aquele novel país - que apenas tinha direito a reivindicar o que herdou do Império Britânico - passou a exigir que o Governo Português lhe entregasse a soberania sobre os territórios do Indostão onde a bandeira que nos foi legada por Afonso Henriques flutuava há 450 anos.
De toda a vasta argumentação apresentada nada, mas absolutamente nada, justificava ou sustentava tal desiderato.
E nem sequer foi difícil ao governo de Lisboa, de então, desmontar todos os argumentos, um a um.
Por fim o Tribunal Internacional da Haia deu razão a Portugal quando submetemos o pleito à sua jurisdição e, até, o Conselho de Segurança da ONU, condenou a invasão de 1961, o que só não vingou pelo veto da U.R.S.S..
Por isso não descansarei enquanto em todos os livros de História em uso oficial e nos discursos dos responsáveis do Estado, não se diga a verdade, e se condene sem peias, aquela bárbara atitude dos responsáveis indianos, indigna de tão antiga civilização.
Esta seria a melhor homenagem que o que resta da Nação Portuguesa poderia fazer, não só a Aniceto do Rosário, como também a todos os bons portugueses que desde Vasco da Gama, viveram, lutaram, comerciaram, colonizaram e evangelizaram, tendo estabelecido naquelas paragens uma comunidade e uma presença que não deslustra perante seja quem for.[3]
Pode considerar-se Aniceto do Rosário, o primeiro combatente português a cair nas últimas campanhas ultramarinas que fomos obrigados a desenvolver para fazer face ao último – embora, suspeito, não derradeiro – grande ataque movido internacionalmente contra Portugal (1954-1975).
Quando a Escola Superior da PSP passar, um dia, a atribuir patrono a cada um dos seus cursos, Aniceto do Rosário deverá, seguramente, figurar entre os primeiros.
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[1] Escusado será dizer que não demos conta de qualquer notícia veiculada
pelos “média”, excepção para uma notícia veiculada por Hernâni Balsa.
[2] Os enclaves eram território português desde o século XVIII, através de
tratado celebrado com o Império Marata, em 1779.
[3] E que têm mais do que o direito a fazer parte da Comunidade de Países de
Língua Oficial Portuguesa…