sexta-feira, 25 de março de 2011

A LÍBIA E A HIPOCRISIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Kadafi e Sócrates
O que se passa na Líbia e a reacção da “comunidade internacional” (alguém sabe o que isso é?), é a prova acabada da refinada hipocrisia que preside às relações entre as entidades políticas sejam elas quais forem.

E, outrossim, da desorientação que grassa no chamado mundo ocidental, nomeadamente entre os países que fazem parte da NATO e da UE.

Os cerca de milhão e setecentos mil Km2, de pedra e areia, com uma orla marítima mediterrânica de 1770 km, onde se amontoam 90% dos seus 6 milhões de habitantes (cerca de 25% de emigrantes), não apresenta qualquer estrutura que possa permitir constituir um país. A Nação é inexistente e o Estado uma espécie de estado-maior de poder unipessoal, espraiado por uma rede tentacular de nepotismo familiar e étnica. O país é tribal, isto é, constituído por descendentes de 140 tribos árabes e outras berberes, hoje os Tuaregues(1). Aquilo que os une são as fronteiras coloniais da antiga Tripolitanea e Cirenaica, que a Itália pré fascista conquistou, em 1911, e continuou a administrar a custo, até à independência da Líbia decretada, em 1952, no seio das Nações Unidas. O único cimento comum é a religião muçulmana que, no espaço em questão, não apresenta cisões de vulto.

Kadhafi está no poder há 40 anos, data assinalada com pompa e circunstância em tendas luxuosas visitadas pelos grandes do mundo.

Quando jovem oficial, Kadafi liderou um golpe de estado, em 1969, que se impôs a uma anquilosada monarquia liderada pelo Rei Idris I, antigo líder religioso dos Sanusis, povo que mais se opôs ao domínio italiano. No poder, substituiu os sucessores de Beis e Califas por uma ditadura pessoal de contornos difusos que procurou sustentar com uma doutrina excêntrica saída de uma noite de insónia e colorida a verde.

Os países do mundo e a solidariedade árabe/muçulmana, acomodaram-se à coisa como, de resto, se acomodam a tudo.

O novo grande líder, fogoso como era, de matriz marxista e fundamentalista muçulmano, decidiu apoiar as causas dos “oprimidos” e passou a destilar ódio aos povos do Ocidente cujos governos culpava dos males do mundo.

Não lhe chegando o palco mediático e a acção político – diplomática, o que estaria no seu direito, decidiu apoiar, de motu próprio, a acção de outras organizações empenhadas em acções de terrorismo internacional.

O evento mais espectacular ocorreu com o atentado bombista ao voo 103 da PANAM, que se despenhou na Escócia, em Dezembro de 1988. Morreram 270 pessoas que, porventura, nem sabiam apontar no mapa onde ficava a Líbia.

Fartos de aturar as diatribes de tão original personagem, dois estadistas de rara coragem política – Reagan e Tatcher, decidiram bombardear pelo ar, vários alvos na Líbia, a começar no alvo número um que era o próprio Kadhafi. Corria o ano de 1986.

Morreram umas quantas pessoas, mas não o dito cujo. Nessa altura não pediram autorização a ninguém a não ser para sobrevoo. A Força Aérea Portuguesa mandou descolar aparelhos de alerta, a fim de escoltarem alguns destes voos, quando passavam ao largo da nossa costa. Convém que esta gente saiba que isto aqui não é terra de ninguém…

Votaram-se, então, sanções económicas contra a Líbia que foram em geral cumpridas, sobretudo pelo mundo ocidental (Resolução nº 748 de 31/3/92).

O povo líbio manteve-se pobre e calado e toda esta situação veio reforçar o controle interno do regime, incluindo o reforço em meios militares.

Acontece que a Líbia é o 4.º produtor africano de hidrocarbonetos dispondo, porém, das maiores reservas de todo o continente. O desenvolvimento lento da indústria extractiva (iniciada em 1961) e o cada vez maior apetite que os mercados internacionais têm por petróleo e gás natural, não eram compatíveis com a quarentena líbia. Quando Saddam caiu no Iraque, em 2003, Kadhafi desistiu do seu programa de armas de destruição maciça e pagou três biliões de dólares às famílias dos que morreram no voo da Pan Am e de um outro (UTA Flight). O namoro começou, então, de todos os lados. O embargo foi levantado, Kadhafi admitiu a responsabilidade nalgumas vilanias que cometeu e os negócios floresceram. Portugal foi na onda.

As visitas sucediam-se e eram só sorrisos e abraços. O grande líder (e seus rebentos) continuavam a fazer tropelias e a dizer enormidades, mas tudo se lhes passou a admitir.

Na véspera da actual “revolta”, as exportações de petróleo e gás já representavam 10% das necessidades europeias, além de que a UE lhe passou a pagar uma soma considerável para ele não deixar os emigrantes clandestinos passarem do seu território para a margem norte do mare nostrum. Na Líbia desabaram milhares de técnicos, empresas, toda a casta de produtos e… muito armamento. Armamento que agora aqueles que o venderam, querem destruir! Um “filme” continuadamente em reposição, agora em tecnicolor e quase por antecipação desde que criaram a CNN!

Na sequência da revolta popular na Tunísia e Egipto (partindo do principio que não há mais nada por detrás…), elementos de uma das “tribos” estranhas ao clã Kadhafi, revoltaram-se em Bengasi (bem longe de Tripoli!) e revelaram o seu desejo de afastar o concorrente discursivo de Fidel de Castro, para longe dos bunkers onde se refugia.

A partir daqui os eventos precipitaram-se.

Esquecendo-se que a realidade social na Líbia não era idêntica ao Egipto e Tunísia e que ao contrário daqueles países não existia um exército nacional (que por enquanto têm conseguido controlar os acontecimentos), mas sim um corpo mercenário de segurança pessoal, os principais lideres dos países ocidentais puseram-se logo ao lado dos revoltosos excomungando liminarmente o “louco” Kadhafi com quem aliás, almoçavam na véspera. Nisto foram coadjuvados pela esmagadora maioria dos jornalistas que cobriam os eventos.

Alguns lideres que nos habituámos a ver tão moderados, até perante situações mais graves, decretaram urbi et orbi, o fim de Kadhafi e do seu regime, de novo transformado em eixo do mal. A França, à revelia da UE (aliás de tudo e todos), reconheceu diplomaticamente um poder desconhecido, em Bengasi…

O governo de Lisboa foi na onda guardando distâncias.

A Liga Árabe baralhada com tudo o que vai acontecendo de Marrocos ao Iémen, nem sabe o que há-de fazer.

Parecia que as coisas estavam a correr bem para os revoltosos e que aquela espécie de milícias circenses ululantes e de pé descalço, que rumavam a Oeste, rapidamente tomariam Tripoli.

No Conselho de Segurança (CS) pensava-se em sanções e congelamento de contas e bens.

Mas a Kadhafi não faltavam fiéis (a sua tribo à cabeça), armas e dinheiro. E o que lhe faltava em soldados passou a sobrar-lhe em mercenários. Quando conseguiu pôr alguma ordem nas hostes (ou o filho mais mediático, por ele), desatou a malhar nos que se lhes opunham, fechou a fronteira com a Tunísia e começou a empurrar perigosamente a tribo de Bengasi para o deserto egípcio.

Aqui soaram as campainhas de alarme em Washington e nalgumas capitais europeias. Desenhou-se uma zona de interdição aérea, mas russos e chineses opunham-se. Até que, in extremis, na sexta-feira, dia 18/3, com as forças de Kadhafi às portas de Bengasi, o CS aprovou a Resolução n.º 1973, que permitia “todas as acções necessárias à protecção de civis”.

De imediato navios e aviões americanos, ingleses e franceses, previamente posicionados, começaram a pulverizar alvos das forças do ditador líbio, com bombas e mísseis.

Mais uma vez os franceses se adiantaram para serem os primeiros e existem fortes dúvidas se efectuaram o primeiro ataque ainda antes da resolução do CS ter entrado em vigor.

Não se percebe o que terá levado russos e chineses a absterem-se na votação, permitindo os ataques e agora, depois destes terem ocorrido, virem pedir que parem…

Aliás a resolução, que contém 95% de palha e 5% de substância, é vaga quanto a esta última. De facto é imprecisa quanto ao âmbito e objectivo; quem pode intervir, durante quanto tempo, etc. Ou seja, permite que qualquer país no mundo vá lá molhar a sopa e se queira posicionar para reclamar eventuais dividendos quando o fumo dissipar.

E, pelos vistos, estabelecer uma zona de exclusão aérea e proteger civis (o que será um civil naquelas circunstâncias?) tem tido um entendimento bastante alargado…

Ao fim de três dias os únicos países que se decidiram a largar armamento sobre as forças de Kadhafi, os EUA, a GB e a França, aparentemente desentenderam-se, não se sabe bem porquê. Como a NATO e a UE não se entendem como intervir e a Liga Árabe começou a virar o bico ao prego, o comando conjunto tem que ser estabelecido com as três potências belicosas para não começarem a disparar cada um para seu lado.
A Alemanha pôs-se de fora, sem explicar muito bem porquê. Mais uma vez a França faz o que costuma, que é baralhar tudo e ter espirros de personalidade relativamente a ingleses e americanos. Não se entende muito bem os objectivos da operação: eliminar Kadhafi? Levar os rebeldes ao poder? Parar o fluxo migratório para a Europa? Ganhar contratos após a “crise” ter passado? E o que fará correr Sarkozy? Não deixar que se conheça a extensão do eventual financiamento da sua última campanha eleitoral, por parte do líder líbio? Obter proeminência na UE? Afastar os EUA de África (quintal das traseiras europeu) como os EUA afastam os europeus do continente americano?

Muitas perguntas se levantam, porém: como reagirão os russos e chineses, se o assunto voltar ao CS? Como irá reagir a rua Árabe? E a Liga Árabe? Como reagirão os núcleos de emigrantes muçulmanos na Europa? Porque é que se ataca o governo líbio e não se atacam os governos do Bahrein e do Iémen, por exemplo? Há dois pesos e duas medidas? Porque é que os governos do Irão e de Israel, até agora não emitiram um som?

O que se passa na Líbia é um prenúncio de guerra civil, a mais cruel de todas as guerras. À partida ninguém se deve imiscuir numa guerra civil (a não ser que um interesse vital de uma potência, normalmente um vizinho esteja em perigo). Havendo envolvimento internacionaliza-se o conflito e ninguém sabe onde vai parar!...

Tudo isto parece profundamente errado e aleatório.

Por uma vez, parece que o governo português se resguardou – embora não fique bem votar a resolução do CS e depois pôr-se de fora da sua aplicação. Aliás o governo português não tem dinheiro para mandar cantar um cego e um dia destes terá apenas uma existência virtual. Mas o povo português, além de ter de aprender rapidamente a escolher o sistema político e os políticos para se bem governar, deve relembrar uma máxima que aprenderam ao longo dos séculos e que é esta: nós não podemos confiar verdadeiramente em ninguém, na cena internacional. E devemos contar, sobretudo, com nós próprios.

Imaginem, por um momento, que uma qualquer coligação intentava uma acção semelhante contra Portugal…
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[1] Os principais grupos tribais, hoje em dia, são os Werfalla (o maior com 1 milhão de almas); Margaha, Barasa, Zwwaya, Misrata, Taruna, Zentan e os Tuaregues, descendentes dos Berberes originais, que habitam sobretudo o Fezzan. A tribo a que pertence Khadafi é a Gaddafi, donde saíram a maior parte da sua guarda pessoal e dos pilotos da FA.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O 15 DE MARÇO DE 1961 A 50 ANOS DE DISTÂNCIA

Nem as crianças escaparam à barbárie sélvática
dos terroristas que atacaram Portugal
A data de 15 de Março de 1961 representa para os portugueses, o início do terrorismo em larga escala, que se abateu sobre a então província de Angola, território português onde Diogo Cão pela 1ª vez colocou um padrão, em 1483. Este ataque configurou um verdadeiro genocídio, que em nada fica atrás à gravidade do que ocorreu no atentado às torres gémeas em Nova Iorque.

Os responsáveis por (alguns) genocídios passaram a ser julgados em tribunais internacionais e esses crimes não prescrevem…

Este ataque traiçoeiro, engendrado fora de portas e com apoios vários, deu origem a uma luta de guerrilha e de contra guerrilha que durou 14 anos, estendendo-se à Guiné (1963) e Moçambique (1964). Foi, sem dúvida, pela sua grandiosidade e consequências, a ocorrência mais marcante de todo o século XX da nação lusa.

À Liga dos Combatentes, a que se associou o governo, através do Ministro da Defesa, e a Presidência da República, pela figura do mais alto magistrado político, coube organizar os eventos de modo a não deixar passar os 50 anos da efeméride, no olvido.

Chamou-se às cerimónias uma "Evocação do Esforço da Nação Portuguesa e das suas Forças Armadas na guerra do Ultramar" (sublinhados nossos), o que parece uma designação feliz. Dividiram-se os eventos entre uma missa nos Jerónimos; uma cerimónia junto ao monumento dos Combatentes, em Pedrouços e uma sessão solene na Sociedade de Geografia de Lisboa que, em boa hora, se associou ao acto.

À parte o escasso público e deficiente cobertura mediática tudo correu bem.

Tudo, com uma excepção: a homilia, deslocada, incongruente, acre e historicamente falsa, do Bispo D. Januário, que presidiu à Eucaristia.

O Sr. Bispo é bem conhecido, pelo que pensa, diz e faz, logo a responsabilidade do insucesso deve ser partilhada por quem o convidou.

Sua Eminência foi convidado para invocar o esforço da Nação e das Forças Armadas (estas fazem parte daquela), se não concordava com tal não devia ter aceite o encargo.

Ao invés disso, resolveu agredir a Nação e as FAs, ao condenar subliminarmente o seu esforço; ao fazer um julgamento político do Estado e lançando sobre todos o anátema da guerra injusta.

A ele bem se pode aplicar a célebre frase de Jesus no Gólgota: “Pai, perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem”.

Não podemos no espaço de umas linhas, analisar toda a penosa homilia que à excepção, talvez, do ministro Santos Silva, já libertou os presentes das penitências da Quaresma. Mas vamos tentar embaciar o brilho de algumas das mais nacaradas pérolas com que S. Ex.ª nos brindou.

Primeiro e simples ponto: a nação portuguesa, melhor ou pior representada politicamente pelo seu estado, foi atacada interna e externamente por meios políticos, diplomáticos, militares e através de violências várias. Todos os indivíduos e povos têm direito à legítima defesa e foi isso que nós todos fizemos: defendemo-nos. A Igreja, aliás, é a primeira a reconhecer esse direito. E o Concílio Vaticano II sempre tão evocado por S. Ex.ª, é bem claro em defender as forças militares, que disso bem se desempenhem (Gaudium et Spes, 79). E quem está do nosso lado é dos nossos; quem está do lado contrário é inimigo; e quem é da nossa família e se passa para o inimigo é traidor. Isto é linear e não oferece qualquer dúvida.

Por isso não se entendem os trocadilhos que o Sr. Bispo fez sobre esta questão, a não ser pela confusão que lhe habita a mente. E esta confusão não é a única: afirmou, por exemplo, que “foi nas matas de África que o governo de Lisboa caiu”, não foi nada, foi por via da subversão, de origem marxista, que se instalou na Metrópole e que o governo de Marcelo Caetano não soube e, ou, quis combater.

Querendo insinuar que a maioria da população ou dos que serviram nas fileiras, estavam na guerra a contragosto, sempre foi dizendo que uns cumpriram por convicção e outros com rebeldia, uns a gosto e outros menos… Bom, Sr. Bispo, desde D. Afonso Henriques que existe o dever militar e nem sempre ele é cumprido com a melhor mente e ninguém são de espírito gosta de ir para a guerra. Mas, às vezes, sabe Sr. Bispo, é preciso. Aliás, o senhor deve perceber estas coisas bem, como tem o dever de obediência canónica, certamente já fez ou disse muitas coisas com que não concordava. Atrevo-me a dizer isto pois já o vi criticar, em público, Sua Santidade, o Papa.

E nem se entende, à face do que disse, como é que se ofereceu para acompanhar as tropas, como capelão, em 1961…

Por outro lado, D. Januário apelou muito à Paz. Está certo, nós devemos apelar à Paz. Mas lembro ao Sr. Bispo que a paz sem justiça não é paz, é iniquidade; que a paz dos cemitérios só interessa aos mortos e que a cobardia ou a recusa à defesa nos leva para a “paz” dos escravos. O “céu”, Excelência, só existe no céu, não na terra. Se a terra é o inferno ou não, deixo aos teólogos decidir…

Por isso exigir a Paz vale tanto como afirmar na Constituição da República que todos nós temos direito à saúde, ao trabalho, à habitação, etc., olhe temos direito a tudo… mas, de facto, temos muito pouco e temos que lutar por isso.

Não se compreende até, que o senhor, como Bispo das FAs e de Segurança, não exige o imediato regresso dos militares que temos espalhados por esse mundo fora a correrem, como Mouzinho dizia, “perigos, fomes e sedes…

E queira fazer o favor de notar que nenhum deles está a defender as suas fronteiras físicas ou a segurança da população a que pertence. Como, “de facto”, e “de jure”, estiveram as centenas de milhares de jovens portugueses que lutaram na refrega que ora invocamos – como, aliás, muitos mais o tinham feito nos últimos cinco séculos.

Finalmente o senhor bispo veio invocar os exemplos da Igreja, durante o citado conflito. Foi mais uma vez infeliz e amargo.

Começou por louvar a acção dos Bispos de Nampula, Beira e Luanda na sua oposição ao regime. Concedamos-lhe a graça da boa intenção, isto é, de terem pautado a sua actuação pelo melhor que sentiam para o seu rebanho. Só lhe faltou elogiar os padres da Lixa, Felicidade Alves e Fanhais que, de tão bons católicos que eram, rapidamente deixaram o ministério. Saudou ainda os religiosos que ajudavam as populações gentílicas e ignorou, convenientemente todos aqueles que estando em nossa casa, ajudaram a, e à subversão.

Mas o Sr. Bispo sabe tão bem como eu, que a esmagadora maioria da hierarquia, dos padres e religiosos e ainda os capelães (já agora, foi a I República que acabou com a assistência religiosa às tropas…), se mantiveram firmes na defesa da causa nacional portuguesa. Porque é que nem sequer lhes fez referência?

E, Sr. D. Januário, convenhamos que a Santa Sé, sobretudo durante o ministério de Paulo VI, não se portou bem para com Portugal. Afinal, nós é que somos a “Nação Fidelíssima”, não eram os movimentos marxistas que lutavam contra nós…

A Santa Sé, indo nos mitos dos ventos da História, deixando de acreditar que o governo de Lisboa perseverasse, passou a balancear e a fazer jogo duplo para tentar manter a influência em todos os tabuleiros. Foi pragmático mas não foi bonito nem cristão. Aliás, nada disto era novo para nós: durante muitas décadas, por via da Propaganda Fidei e outras, tentaram retirar-nos o Padroado do Oriente, cujo magistério exercemos, diligentemente, durante séculos.

Por tudo isto, Sr. Bispo D. Januário, tanto nós como o Altíssimo temos muito que lhe perdoar. E estamos dispostos a fazê-lo: Ele porque a sua misericórdia é infinita, e nós por dever de cristandade. O problema é que V.Exª se tem mostrado relapso ao arrependimento.

Parafraseando uma frase assassina com que o Prof. Salazar brindou D. António, Bispo da Invicta e vosso alter ego, “possui demasiada cultura para a inteligência que tem”, também se poderá dizer que V. Ex.ª tem demasiados conceitos na cabeça e demasiado errados, para aquilo que consegue processar.

Respeitosamente,
Seu

quarta-feira, 16 de março de 2011

AS ÚLTIMAS AGRESSÕES À INSTITUIÇÃO MILITAR

Durante quase toda a minha vida militar passei o tempo a alertar para o que iriam tentar fazer às FAs e aos militares. Quase ninguém me levou a sério e as coisas foram acontecendo. Coisas erradas e más, entenda-se.

Uns olhavam-me incrédulos; outros, com um encolher de ombros; aquele com um sorriso trocista; alguns, até, concordando com o que se ia fazendo. A maioria sem saber o que pensar ou fazer. De alferes a general. Colaram-me muitos nomes e ainda chamam.

Lembro-me, ainda, daqueles, imberbes ou curtidos de muitas intempéries que, perante a possibilidade de algo vir a acontecer diziam: “eles não se atrevem!” E quando eu lhes dizia que “eles atrevem-se a tudo desde que ninguém se lhes oponha”, ficavam com ar espantado a olhar e não diziam nada. E “eles” foram-se atrevendo sempre a mais…

Enfim, a Instituição Militar (IM) está quase irreconhecível.

As últimas duas barbaridades que o Poder Politico cometeu foram o congelamento das promoções em todos os postos e a devassa às contas dos Ramos por parte de uma inspecção do Ministério das Finanças.

Não consta que tivesse havido qualquer reacção ou protesto por parte da hierarquia militar, de pessoal no activo, reserva ou reforma ou de comentadores. Apenas as associações de militares chamaram a atenção para o agravo e suas consequências.

Analisemos, sucintamente, cada uma das ditas barbaridades.

O congelamento das promoções é de uma gravidade inaudita. Confesso até, que tendo antecipado todas as malfeitorias que têm sido feitas à IM (e tendo em carteira algumas outras que se seguirão), esta não me tinha ocorrido. Vejamos: a carreira militar é absolutamente específica e orientada por regras deontológicas e técnicas ímpares na sociedade portuguesa, que são aferidas. Todas estão regulamentadas.

Um militar serve, para além do Estado, a Nação, não pode ser militar noutra “empresa” nem noutro país. A Constituição da República e leis que a regulamentam obrigam-nos, coercivamente, a uma limitação significativa nos seus direitos de cidadania. A lei estabelece os requisitos que os militares têm que cumprir para serem promovidos, estes cumprem e o governo, que transita por efémero, através de um despacho iníquo, de dois ministros ignaros, determina que os militares que cumpriram o seu dever e estão dentro das condições que os “representantes” do povo um dia decidiram – e não foram revogadas – estão suspensos de serem promovidos!

Mais: suspendem “temporariamente”(?) um direito – que é também um pilar de funcionalidade – que se encontra ainda constrangido por limites de idade (os postos têm limites de idade), o que não acontece também em mais nenhum outro grupo profissional!

A questão da “funcionalidade” não é, por seu lado, despicienda, já que o princípio da hierarquia – que tem sido destruído nas relações de trabalho e sociais – é vital para o (bom) funcionamento das FAs. Ora tudo isto está posto em causa pelo referido despacho.

E como o que os preocupa é cortar nos réditos alheios (não nas clientelas politicas), mesmo nos orçamentos das instituições que são vitais ao Estado e à Nação, também suspenderam uma norma algo idiota, inventada há uns anos atrás, que estabelecia que quem estivesse a desempenhar funções de posto superior, receberia por esse posto.

Eu, que estou longe de ser um constitucionalista, digo que esta atitude do executivo, que na prática, substitui os directores de pessoal e os chefes militares pelo ministro das finanças, é profundamente inconstitucional e injusta. E a prova provada de que o Estado não é uma pessoa de Bem, nem sabe o que anda a fazer. Estou à vontade para dizer isto pois estando na situação de reforma, em nada me afecta materialmente. Embora me atinja na dignidade pois fere a dignidade da IM a que muito prezo de pertencer.

Creio, até, que o governo colocando-se na situação de se desobrigar do que devia defender e respeitar, justifica que os militares possam fazer o mesmo relativamente às suas obrigações para com o Estado. E era o que deveriam fazer já, se fossem do quilate ético/moral dos políticos que assim procedem e não tivessem um entendimento diferente do serviço público.

Mas há atitudes e actos que não devem passar em claro ou sem reacção.

O “despacho inspectivo”, conjunto do MDN e MF, de 10/02/11, que determinou uma inspecção das Finanças aos Ramos das FAs, por causa do montante necessário para fazer face às despesas com pessoal é, por seu lado, um atestado de incompetência às chefias militares (e ao próprio MDN); uma ingerência inadmissível e incongruente, no funcionamento da IM e resulta apenas – ou estarei muito enganado – de uma operação de cosmética para que o governo (ou apenas o MDN), limpe a face, por terem aparecido aumentos na rubrica de pessoal quando tinham declarado que iam diminuir os gastos.

Ora, sendo assim, o insulto ainda é mais grave já que estão a tentar fazer das FAs e dos militares capacho da sua demagogia e falta de seriedade. E ainda é preciso dizer que para além das inspecções dos ramos, o ministério dispõe da Inspecção-Geral das FAs, que tem por missão verificar que tudo se passa conforme a lei e também foi ultrapassada por este despacho.

O que se passa é que o governo suborçamenta, por norma, a rubrica do pessoal; apesar das reduções continuas de pessoal decretadas (só em voluntários e contratados reduziram-se cerca de 25% dos efectivos nos últimos seis anos), tal ainda não se repercutiu, em parte, nos orçamentos e, finalmente, o governo procedeu a ajustamentos de vencimentos e de subsídios, que postergou no tempo com engenharias financeiras, ou simplesmente não cumprindo a lei. Agora, por razões várias, decidiram-se a pagar e daí o bolo da massa salarial ter subido imenso. O mesmo se passou na GNR e PSP (com a diferença de, nessas forças, o pessoal estar sempre a aumentar…)

Ora como os políticos não querem assumir publicamente a situação fazem-se de virgens ofendidas e tentam passar para a opinião pública que a culpa é dos militares que não sabem gerir a sua casa e, ou, não colaboram com os esforços do governo em apertar o cinto. É uma infelicidade grande ter gente desta como governantes.

Como as chefias militares, por razões conhecidas, nunca explicam nada em termos públicos – e muito pouco às tropas – e a comunicação social, de um modo geral, por ignorância, incompetência ou má fé, não investiga e noticia correctamente, nós passamos a vida embrulhados nestas situações.

Por outro lado, as chefias militares, salvo raras excepções, têm aguentado tudo de cara alegre e mesmo ao fim de anos e anos a verem cortar em todas as suas competências – a ponto de se estarem a deixar desqualificar – e a diminuir os meios das FAs, ao passo que vêem as missões aumentar, continuam a discursar que vão tentar cumprir tudo nem que seja fazendo das tripas coração. Ora com este procedimento só estão a dar razão a quem corta e desqualifica e a prejudicar o moral das tropas.

Fiquem, porém, cientes de uma coisa: ninguém vos vai agradecer por isso e quando um dia destes a coisa partir (como já partiu com o desaparecimento das armas na Carregueira), porque está tudo preso por fios, serão crucificados na praça pública!

Como diria o Pessoa “…tudo isto faz sentido. O que não faz sentido é o sentido que tudo isto tem

terça-feira, 15 de março de 2011

UM APONTAMENTO SOBRE A MANIF. DE DIA 12/3

Não interessa quantos foram, foram muitos. A parte central da Av. da Liberdade estava repleta, desde os Restauradores até à estátua do Pombal. E ainda faltam os das restantes cidades.

Interessa sim, como se realizou e o que significa/representa.

Correu bem para além de todas as expectativas.

Não havia mais jovens do que de outras idades – ou seja a “aflição” é transversal – não havia bandeiras partidárias (talvez uma), mas havia algumas bandeiras nacionais (o que está bem); não apareceram políticos (pudera!), nem frases estúpidas; não houve má educação, nem houve discursos – ou seja ninguém ficou desagradado.

Confesso que nunca imaginei ver cidadãos de extremos políticos opostos, em boa vizinhança e com outros com bandeira do “arco-íris” pelo meio. Mas vi.

Correu bem. Apesar de não haver organização, nem elementos de “segurança” da manifestação, etc., não houve um único incidente, um dislate, um mau comportamento. Respirava-se, como hei-de dizer – vos, um “bom ar”. Parecia um passeio de domingo onde as famílias se juntaram no mesmo local e decidiram seguir pelo mesmo caminho.

É certo que o caminho representava um protesto e cada um teria as suas razões. Mas cada um fez, aparentemente, das razões dos outros as suas razões…De facto somos um povo muito peculiar. Até nos chegar a mostarda ao nariz.

Um ponto comum se pode divisar: o protesto contra a classe politica e o comportamento dos Partidos. Porque, independentemente das razões de uns e de outros, foram eles que conduziram o Estado à falência, a Nação à indigência e a Sociedade à falta de Princípios.

Por isso ninguém os vislumbrou (aos políticos). Os políticos e os Partidos não gostam deste tipo de manifestações. Não são eles que as convocam, organizam e controlam…Às vezes até se opõem, estão lembrados do que aconteceu no 28 de Setembro de 1974, com a manifestação da “maioria silenciosa”? Por isso até o mais conhecido apóstolo do “direito à indignação”, o Dr. Mário Soares, desvalorizou e não apoiou esta indignação cívica…

A manifestação não tinha objectivos específicos e, por isso, se esgota, provavelmente, aqui. Mesmo não sendo só a juventude que está à rasca, mas o país inteiro.

Mas aquilo que significou devia quedar-se no espírito de quem ocupa, ocupou ou pensa vira a ocupar, as cadeiras do poder político. Para que ganhem juízo e decência. E para que deixem de querer fazer de Portugal e dos portugueses um negócio de vão de escada.
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Fotos de João Alarcão

domingo, 13 de março de 2011

UM MERGULHO NA LÍBIA DE KADHAFI

Passei 25 dias na Libia a voar para uma companhia deles, em Julho/Agosto de 2008. Eis o retrato que então escrevi. Achei engraçado desenterrrá-lo agora....
22/08/2008

Posta em quarentena após ter sido bombardeada do ar por americanos com apoio inglês, em Abril de 1986, na sequência de alegado apoio activo a actividades terroristas no mundo, a Líbia, parece ter parado no tempo. Aparentemente em represália deste ataque as autoridades líbias, certamente com várias conexões internacionais, prepararam e levaram a cabo uma sabotagem num avião americano que se despenhou em Lockerbie, na Escócia, morrendo todos os ocupantes.

Na sequência foram instauradas sanções económicas e políticas. A Líbia virou para grande parte do mundo, um Estado pária. O processo de julgamento internacional demorou mais de 10 anos e confirmou as ligações líbias.

O tempo passou, os dirigentes líbios assumiram as responsabilidades no atentado (embora não o arrependimento) e a necessidade de petróleo e mercados, fez o resto: a Líbia passou pouco a pouco a sair do limbo e o seu líder Kadhafi – que está a comemorar o 38.º ano no poder -, passou a ser novamente um chefe de Estado a quem se podia convidar para jantar.

A história do país conta-se em três penadas:

Vestígios arqueológicos revelam ocupação pré-histórica; os fenícios chegaram e estabeleceram cidades em 7 AC. Seguiram-se gregos até que os romanos a incorporaram no seu império. O cristianismo ainda chegou no seu tempo, seguiram-se os vândalos e até Bizâncio ocupou parte do território.

No século VII os árabes ocuparam e islamizaram todo o norte de África e por aí ficaram até hoje. Nada de significativo se passou entretanto. Até que em 1911 os italianos lançaram as suas garras expansionistas e transformaram-na na colónia da Tripolitania. Efémera presença que quase não deixou traço e se esfumou por 1943. Ingleses e franceses lançaram então administração tipo protectorado sobre partes dos despojos italianos, até que através da Resolução da ONU de 24/12/1951, foi outorgada a independência e a Líbia tornou-se um reino. De pouca dura também: em 1/9/1969 um jovem militar de 25 anos, assumiu o poder e republicanizou o país, que viria a ser transformado no “The Socialist People’s Libyan Arab, Jamahiriya” (seja lá o que isso for!), em 2/3/1977.

É o terceiro maior país de África com 1.759.540 Km2, apesar de quase tudo ser areia e pedra; a densidade populacional é de 3,2 h/Km2 e a maioria está concentrada na orla costeira. Faz fronteira a este, com o Egipto; a sul, com o Sudão, Chade e Níger e a oeste com a Argélia e Tunísia. Chove pouco e o Inverno tem temperaturas moderadas sendo o restante ano muito quente.

O aspecto actual do país não é nada famoso. Além do ar pouco respirável devido ao calor, poeirada e poluição (falamos de Tripoli) o que vemos é desolador. A cidade está degradadíssima, as pessoas têm mau aspecto da cabeça aos pés e são pouco sociáveis e, muitos, arrogantes e agressivas. A pobreza impera embora se veja pouca gente a esmolar e o que mais se vê são cidadãos (?!) sentados com ar absorto ou a deambular sem destino certo.

A burocracia e o desleixo convivem alegremente. Todos os “chefes” e são muitos, são assaz ciosos da sua “autoridade”… o sistema emperra.

No aeroporto por exemplo, os passageiros têm que passar até chegar ao avião, aí por uns seis controlos de papelada. Mas para o RX olha-se displicentemente, quando se olha…

A corrupção está por todo o lado. Vem dos confins dos tempos.

O país não parece ser muito policiado, apenas se vê polícias com metralhadoras na guarda de edifícios públicos. Os militares estão metidos nos quartéis, e dos que vislumbrámos têm todos aspecto pouco cuidado. Anda-se em segurança nas ruas, que por seu lado estão pejadas de fardas brancas – os polícias de trânsito. Aparentemente servem apenas como elemento decorativo e para baixar o índice de desemprego já que o tráfego é caótico e perfeitamente indisciplinado. E quando se tira a carta – partindo do princípio que há alguma escola – devem-lhes ensinar que as linhas que dividem as avenidas, não se destinam a que os carros se conduzam entre elas, mas que o eixo longitudinal do veículo lhes siga paralelo …

A actividade económica parece reduzir-se ao pequeno comércio de lojas e de rua e de fraca qualidade; turismo nem sabem o que seja; serviços, nem o do lixo (já lá iremos) tudo se aparenta resumir à exploração de petróleo, algumas pedreiras e agora o gás. A propósito, segundo informações colhidas num profissional do ramo, numa praia privada - as únicas frequentáveis -, o barril do petróleo custa 2 dólares a extrair !...

O que resta da actividade económica, já que indústria não há e a agricultura é medieval, nota-se em algum movimento portuário (tem que se importar bens…) e sobretudo na construção civil, onde se nota um surto embora muito desordenado e alguma recuperação de edifícios, sobretudo do passado colonial.

A Líbia tem pouca população (cerca de 6 milhões de habitantes) e para além de pouca não é qualificada. De modo que o país tem importado emigrantes sobretudo de outros países árabes, para trabalhos indiferenciados e gente qualificada da Europa Ocidental e de Leste. E também chineses. Não há números certos, mas serão no mínimo três milhões, Já se notam tensões sociais por causa disto.

A única coisa que não falta no país, são mesquitas. Estão por todo o lado.

Existe um museu minimamente organizado que junta um pouco de tudo: desde peças arqueológicas a animais embalsamados, passando pelo artesanato e até um VW que em tempos pertenceu ao actual detentor do poder e adepto fervoroso do campismo touareg. A actividade cultural aparenta ser inexistente. Poucos quiosques vendem meia dúzia de jornais e revistas.

A única coisa que faz lembrar alguma socialização são os cafés onde se fuma a típica “chicha” e uns jardins onde uns magotes de pessoas se tentam aliviar do calor.

Curiosamente nalguns destes jardins e a horas mortas (de manhã) vislumbram-se casais isolados que entabulam namoros primitivos. É um avanço !

A curta ocupação colonial italiana não deixou marcas a não ser a actual e imponente embaixada e a unica coisa que há merecedora de visita, 200 km em redor, são as ruínas de duas antigas cidades romanas: Sabrata e Leptis Magna.

Este é um curto resumo do país de Kadhafi – aparentemente tudo se conflui nele e na sua família – que após 38 anos no poder e uma riqueza enorme no subsolo não dá ao visitante outro retrato que não este.

O regime que ninguém sabe identificar claramente e que resulta de uma mescla de autoritarismo típico árabe com noções de marxismo mal mastigado e umas ideias peregrinas (verdes), para condimentar, a única medida palpável com que se topa é a distribuição gratuita de pão a quem o não pode pagar – embora ninguém conseguisse explicar como isso se processa. Enquanto isso, só a alcatifa que forra o avião particular do grande líder custou 15 milhões de dólares, mas dificilmente se consegue encontrar manteiga à venda...

O senhor, dizem, não dorme muitas vezes no mesmo sítio e não se sabe onde e possui um “bunker” perto do centro da cidade guardado a sete chaves. E quando alguém o aborrece ou a algum dos seus, como aconteceu há pouco tempo com um dos filhos que a polícia suíça teve o atrevimento de questionar, por alegada agressão a pessoal do hotel onde se aboletava, não há problemas: suspende-se de imediato os voos para Genéve!

Resta saber a gravidade do contrabando nuclear detectado na Suíça, em Junho passado, com destino à Líbia e que envolvia um conhecido cientista nuclear paquistanês. Há gente que não tem emenda, e outros que não aprendem…

Mas a imagem de marca da Líbia que choca qualquer ser civilizado é o lixo.

O país assemalha-se a um monturo gigantesco. Tal situação é incompreensível.

Em primeiro lugar por não ser possível não haver dinheiro nem vontade (ainda por cima há paletes de gente sem fazer nada…) para montar um serviço de limpeza que funcione (para já não falar em educar as pessoas para a higiene); por outro, como é imaginável ao comum dos habitantes aceitarem viver no meio de tanta javardice!

Na Guiné, onde também já estive, ainda passava um carro do lixo de vez em quando. Mas a natureza era pródiga: havia jagudis (abutres). Ora os jagudis eram melhores que um batalhão de “almeidas”, pois até comiam o lixo. Acontece, porém, que nem os jagudis querem viver na Líbia.

Só resta uma solução.

Agora que os negócios de Portugal se estão a encaminhar para este simulacro de país, e que o nosso ministro, entre todos o Primeiro, está prestes a fazer do mentor da Jamahiriya, o seu terceiro grande amigo (a seguir a Zapatero e Chávez), o governo português devia oferecer à Líbia os serviços da ASAE (recomenda-se visita ao mercado). Por duas razões: Prestávamos (apesar de tudo) um bom serviço ao planeta e, livrávamo-nos deles.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A MANIFESTAÇÃO DO DIA 12 DE MARÇO

Corre a notícia, no éter informático, que dos 736 deputados do Parlamento Europeu, 17 são acusados de violência conjugal; 11 emitiram cheques sem provisão; 35 participaram, directa ou indirectamente, em falências fraudulentas; 16 foram a tribunal por delitos diversos, no âmbito do código civil e 32 foram presos por conduzirem embriagados ou por outros delitos de trânsito. Total 111, ou seja, grosso modo, um em cada sete.

Será que daqui se pode concluir que o sistema eleitoral democrático, existente na Europa é permeável à eleição da “banditagem” para o Poder?

Dir-se-á, “mas ao menos existe liberdade de expressão e pode-se denunciar o que está mal”. É verdade – embora não seja a verdade toda – mas pergunta-se, a liberdade de expressão como é usada, tem servido para alguma coisa? Quantas malfeitorias e erros denunciados são castigados ou corrigidos? A liberdade de expressão como o direito à manifestação pacifica não tem quase sempre servido como escape e para dar azo a uma pretensa liberdade individual e acalmar consciências, do que para melhorar efectivamente as coisas?

Clama-se contra os ditadores que existem por esse mundo fora – embora ditador mau é apenas aquele que cai do poder, ou se atreveu a ferir interesses de uma potência – os cleptocratas de África, etc. Mas qual é a diferença, por ex., para Portugal onde o ordenado de 20% da população não chega a 500 euros e os gestores públicos, por onde passam a quase totalidade de quem exerceu ou vai exercer cargos políticos, nem sabe quanto ganha…

Qual é a diferença? É por se ter ido a votos? E o que é mais importante, o modo ou a substância?

Se os cleptocratas, africanos, asiáticos, sul-americanos, etc., fossem eleitos por votos considerados livres (!?) e continuassem a roubar o seu povo, a delapidar as riquezas naturais, a atentar contra os direitos humanos, etc., já estariam desculpados e passavam a respeitáveis?

Isto, claro, para já não falar nos regimes comunistas que despontaram à força, por todo o mundo – agora restam poucos, mas não desapareceram – em que tiveram o desplante de decretar que o povo estava no poder e era tudo comum e igual. Foi igual a miséria para todos, de facto, menos para os que estavam no poder. E o Despotismo Iluminado comparado com eles era um conto de fadas…

Vem tudo isto a propósito das projectadas manifestações do dia 12 de Março.

Pensei apoiá-las e participar.

Passei, entretanto, a pensar se o deveria fazer.

Não conheço os organizadores da coisa o que, à partida, poderia consignar uma réstia de esperança em cidadãos descomprometidos.

Depois parecia-me um protesto correcto, contra o modo de actuação da classe politica e a existência de um cada vez maior número de injustiças e barbaridades, de que devíamos ter vergonha e nos vão condenar a uma existência miserável.

Seria uma manifestação cívica contra o descalabro cívico e moral. A defesa de um futuro melhor para os nossos filhos e netos. Uma afirmação pela Decência!

Decência nas relações sociais e em prol de que a Politica seja o serviço da “Polis” e não o exercício do saque autorizado, a outorga sistemática da soberania e a desconstrução da Nação dos portugueses.

Não se iria resolver concretamente nada, nem se pode despedir todos os políticos em simultâneo. Mas poder-se-ia ter algum êxito no arrepiar do caminho em muita coisa. Pelo menos que pensassem duas vezes antes de legislarem ou abrissem a boca.

E é pela decência que temos que lutar, pois já vimos que corruptos e malandros medram sob a capa de todos os regimes e sistemas políticos. Até de Religiões!

Aconteceu, porém, o inevitável: o PCP e o BE vão tentar cavalgar a onda, independentemente de ter partido deles ou não, a iniciativa. Talvez o SIS saiba, mas duvido.

Ora isto, a acontecer, estraga tudo, por três razões: primeiro porque a participação de partidos numa manifestação deste tipo afasta o comum dos cidadãos – pretende-se uma manifestação “inteira”, não “partida”; depois porque os partidos são parte do problema, não são parte da solução, e é por causa do modo como funcionam que chegámos ao que chegámos. Finalmente porque o exercício e a prática dos citados partidos tanto em Portugal como nos seus congéneres estrangeiros são responsáveis por resultados dos mais estarrecedores na história dos povos.

Por isso – e a talhe de foice – se estranha que o Prof. Marcelo no seu pretérito monologo televisivo, tenha felicitado tão efusivamente o PCP pelo seu 90.º aniversário.

De facto, a direcção do partido o que quis impor em Portugal, desde 1921, foi uma ditadura estalinista. Foi combatido de um modo muito mais humano e benévolo em relação aos métodos que preconizava e defendia… Obedeceu sempre, até à queda do muro de Berlim, em 1989, a uma entidade estranha ao povo português: o Partido Comunista da União Soviética.

Tentou apoderar-se do Poder em Portugal, pela força e pela intimidação, já depois do golpe de estado ocorrido em 25 de Abril de 1974, que eles muito ajudaram a que se transformasse numa revolução anárquica. Foram um dos principais responsáveis (embora longe de serem os únicos), pelo drama da Descolonização e por se ter entregue, atrabiliariamente, o poder nos ex-territórios portugueses a forças marxistas e apenas a estas. E ao descalabro que daí adveio.

O 25 de Novembro de 1975 parou-lhes o golpismo à força, mas não os liquidou. Toleraram-nos e permitiram-lhes um ar de respeitabilidade. Herdámos assim problemas para décadas… A título de comparação, os vencedores do 25/11, comportaram-se como os generais ingleses que deixaram partir Junot e o que restava do seu Exército, com armas e bagagens – e tudo o que roubaram. Até forneceram os navios!

E se hoje o PCP diz aceitar o jogo democrático “burguês” é porque não lhe resta outra alternativa e tem gozado das “amplas liberdades” que sempre foram negadas aos outros, quando um partido comunista esteve no poder em qualquer parte do mundo. E não ouvimos, até hoje, qualquer declaração do Comité Central renunciando à ditadura do proletariado, à conquista revolucionária do poder, à luta de classes e outros mimos semelhantes.

Dão-se alvíssaras, portanto, a quem conseguir perceber em que é que o Prof. Marcelo se apoia para tão calorosas felicitações.

O BE ainda consegue ser pior. Menos perigoso, mas pior.

O Bloco é uma amalgama de trânsfugas de um número indeterminado de ideologias e “istas” falhados, qual deles o pior, o que resulta num nexo caótico cujo fio condutor é o ódio ao que existe.

A envolver tudo isto temos uma mistura de novos e velhos jacobinismos com herdeiros do Maio de 68, em França, que resultaram na pior liderança politica do último milénio… Esta rapaziada espalhou-se e invadiu todos os partidos, parlamentos e governos dos países ocidentais. Encontraram os cofres cheios e os supermercados repletos e pensaram que tinham o rei na barriga. Renegaram os princípios e valores que tinham criado esta riqueza e bem-estar e trocaram-nos pelo relativismo moral, o multiculturalismo, o consumismo, o individualismo feroz e a cultura do prazer.

Desenterraram a teoria do “bom selvagem”, desresponsabilizando os actos anti-sociais e pondo o ónus numa entidade indefinida chamada sociedade.

Ignorar Deus e o espiritual já não lhes chega, são militantemente contra. Atacam a família (e todas as instituições centenárias), e já quase a destruíram. Enfim isto dava pano para mangas.

Os partidos do “arco do poder” estão, também, todos coloridos por esta gente. E pior foram infiltrados pelas diversas “maçonarias” existentes e grupos de interesses ligados a negócios. Tudo virou, aliás, negócio, daí serem falhos de princípios, de ideologia e de patriotismo.

Com a queda do muro de Berlim e sem contrapeso ideológico/militar, a alta finança ocidental começou a desenvolver comportamentos típicos da natureza humana num ambiente “sem peias”, a fim de cevarem os seus apetites gananciosos de poder e dinheiro.

Começaram por acelerar os poderes de organizações internacionais que ninguém elegeu e que funcionam à margem dos estados nacionais e da ONU (supostamente a sede do Direito Internacional), como são o G-20, a Comissão Trilateral e o Grupo de Bilderberg; depois tentaram criar um mercado mundial de comercio (a tal globalização), subtraindo o controlo da economia a cada estado, em favor das grandes companhias multinacionais – originando problemas enormes de emprego e fluxos migratórios.

Mas a reacção da China, da Índia e em parte da Rússia começou a destabilizar o sistema (o mundo muçulmano, à parte a “elite” da OPEP, tem ficado de fora deste esquema por razões próprias; veremos como o tumulto que os varre neste momento – e que aparentemente ninguém previu – se vai harmonizar com esta realidade).

Finalmente desregularam o sistema financeiro de tal forma, que criaram ondas de choque – com origem na Wall Street – que se propagaram em todo o mundo. Tais ondas estão longe de terem parado.

Alguns dos principais responsáveis por estes actos reputados como criminosos, segundo o filme “Inside Job”, premiado na última edição dos Óscares, foram convidados para o governo dos EUA pelo Presidente…. Obama. Esse mesmo, que na campanha eleitoral prometeu que ia pôr a Wall Street na ordem.

Perante tudo isto, os políticos saídos do tal arco do poder, nada previram, nada viram e nada fizeram. Agora querem que seja a população a pagar.

Em Portugal não foi diferente, apenas com particularidades próprias.

Atordoados e inermes depois de PREC louco, perdendo no espaço de ano e meio cerca de 95% do território e 60% da população – e sem nunca, até hoje, se ter tido a coragem de fazer um balanço e medir as consequências que isso teve para o país – a população portuguesa ficou num estado de stress pós traumático!

Sem lideranças patriotas e maioritariamente internacionalistas, nivelados por baixo, com grande parte das elites emigradas ou presas e envergonhados de sermos descendentes de Gamas, Albuquerques e Cabrais (até isso nos tiraram), o país abandonou-se como barco à deriva, sem motor nem timoneiro, no mar da CEE.

Fomo-nos autodestruindo e passámos a viver a prazo e de crédito.

Como pano de fundo de tudo isto implantou-se um sistema político/partidário que vive em guerra civil permanente (ainda sem tiros), encimado por um regime semi-presidencialista, que não é carne nem peixe. Está bloqueado e não se recomenda.

Numa palavra, desqualificámo-nos e ninguém nos leva a sério. Nem nós próprios.

Os responsáveis por tudo isto somos todos, é certo, mas alguns são mais do que outros.

Mas desses que são mais responsáveis ainda não veio ninguém dizer que se enganou e ninguém pediu desculpa. E o mais incrível é que ninguém dos responsáveis quer dar o exemplo nos sacrifícios que está a impor como canga a toda a Nação, ficando as principais clientelas politicas de fora!

A vergonha próxima da nossa desqualificação como nação (já nem é o estado), vai dar-se no próximo festival da canção, em Berlim, com a representação que lá elegemos levar. Isto de eleições teve sempre os seus perigos…

Era para protestar contra todo este tipo de comportamentos que eu gostava de me manifestar no próximo dia 12. Pela tal decência que tem que andar associada a vergonha na cara.

Como fazer então se, aparentemente, não é isso que vai acontecer e, ainda por cima as pessoas que eventualmente partilhassem desta motivação, vão ficar no conforto da lareira?

Tudo pesado, decido ir.

Irei sozinho ou com familiares. Não corro o perigo de me confundir com outrem; não hostilizarei coisa alguma ou alguém. Não levo bandeiras nem palavras de ordem; o silêncio será o meu protesto. Pela decência.

Não me misturarei com quem defenda coisas com que não me identifico, mas terei com todos a solidariedade de compatriota. Somos todos portugueses e essa é a base comum e alargada que nos deve unir.

O “palco” não pode, nem deve, ser ocupado sempre pelos mesmos e ninguém tem de abdicar das suas convicções, ou sentir-se intimidado.

O futuro envolve-nos a todos e vai ter que ser percorrido por todos.

João José Brandão Ferreira
Cidadão eleitor n.º B-10614

sábado, 5 de março de 2011

OS EUA, FUGAS DE INFORMAÇÃO E MIGUEL SOUSA TAVARES

“Quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?
Adágio popular

Noticiou (e comentou) o Expresso de 26/2, alguns telegramas do embaixador dos EUA, entre 2007 e 2009, enviados de Lisboa para o Departamento de Estado em Washington.

Estas informações foram obtidas e difundidas pela Wikileaks após uma inaudita violação da segurança informática daquele órgão do governo americano. Esta violação levou ao maior roubo de documentação classificada da História, deixando os grandes golpes de espionagem da Guerra-fria, parecerem uma brincadeira de crianças. E deste facto o governo dos EUA só se pode queixar de si próprio.

Queremos começar por dizer que o embaixador americano escreveu o que escreveu no âmbito das suas funções e tinha toda a legitimidade para o fazer. Tinha até o dever de informar os seus superiores daquilo que honestamente pensava.

Se pensava bem ou mal é outra questão.

O embaixador Thomas F. Stephenson, assim se chama o senhor, não era um embaixador de carreira. Nasceu em 1942, em Wienington, no Estado do Delaware, tendo-se formado em economia na Universidade de Harvard e tem um mestrado nessa disciplina pela Harvard Business School. Tem, ainda, uma formação em Direito.

Fez toda a sua vida em empresas de tecnologia de segurança, de saúde e financeiras. Antes da sua nomeação para Lisboa, esteve 19 anos na firma “Sequóia Capital”, sita no Silicon Valley (Califórnia). É amigo do Presidente Bush (filho) e foi por esta via que veio passar uma temporada a Lisboa.

Convém ter a noção que este tipo de nomeações é normal na administração americana e que os embaixadores de carreira constituem uma minoria. Estas funções são assim uma espécie de sinecura com que se agraciam amigos e pessoas que se tenham distinguido por algum motivo ou, simplesmente, por terem sido influentes durante a campanha eleitoral que levou um determinado candidato à Casa Branca.

O que disse ou fez, então, o embaixador para causar sururú na imprensa ao mesmo tempo que era desvalorizada pelas autoridades portuguesas que, objectivamente, as ignoraram publicamente?

Pois teceu uma série de considerações sobre as Forças Armadas Portuguesas (FAs), o Ministério da Defesa, a compra de armamento e de algumas personalidades.

Aparentemente acertou no que disse sobre os então Ministro da Defesa, nem tanto sobre Secretário de Estado; a manutenção dos helicópteros EH-101 e no que afirmou sobre o MAI e a GNR.

Está baralhado no que disse relativamente ao EMGFA/orçamentos/relações com os Ramos (convinha ter lido as leis e regulamentos existentes); tem alguma razão no que diz sobre a cultura do “status quo” e do carreirismo – embora denote que está longe de perceber o porquê das coisas – e está completamente enganado quanto aos adiamentos das decisões: não há incapacidade, existe é um desacordo militante a nível de chefias e um relacionamento político-militar desadequado (onde impera a ignorância, a desconfiança e até a deslealdade…). O exemplo que aponta da resposta do 2º comandante da Academia sobre um pedido da banda de música por parte da embaixada é risível e demonstra bem o grau de pesporrência atrevida do arvorado diplomata.

Relativamente à cooperação com os PALOP é um facto que existe alguma desconfiança no MDN e no MNE relativamente à participação americana. Não duvido que seria útil alguma cooperação, não só porque os EUA dispõem de meios que nos faltam como poderiam servir de contraponto a outras potências, nomeadamente europeias, que nos fazem concorrência. Mas a desconfiança é legítima no sentido em que, onde os EUA entram querem mandar, ao passo que são de uma ignorância crassa sobre África e de uma inabilidade homérica em lidar com outros povos e culturas.

Quanto ao resto o senhor embaixador acertou pouco, facto que até os jornalistas identificaram.

Não acertou nas fragatas, nos patrulhas, nos F-16, nos submarinos, nos carros de combate Leopard A6, nos C-130, nem no que referiu sobre os generais vs soldados.

As fragatas americanas foram muito bem preteridas relativamente às holandesas. O Estado-Maior da Armada fez o seu trabalho bem feito e a recomendação foi acertada; existem seis C-130 e não um, com 30 anos de bons serviços e sem nunca ter ficado uma missão por fazer; os 39 F-16 não são demasiados, preenchem duas esquadras e juntamente com os P-3P são a força da Força Aérea.

A sua prontidão é baixa porque estão a ser efectuadas modernizações que custam caro e levam tempo. Não se entende porque é que o Sr. Embaixador os acha dispensáveis. Acaso acha os F-16 da USAF dispensáveis? Ou acaso entende que os EUA têm o direito de vigiar e defender o seu espaço aéreo e Portugal não?

Quanto aos submarinos não vou perder tempo a explicar evidências, mas talvez se o Sr. Stephenson procurasse saber porque é que o Canadá tem cerca de uma dezena, talvez começasse a entender alguma coisa. Os submarinos e os F-16 são as (quase) únicas armas ofensivas e verdadeiramente dissuasoras que temos.

Os “Leopard” (37 e não 36), são dos mais modernos que há e vão ser os únicos carros de combate que vamos ter. É o que resta à Cavalaria (e ao Exército) para manter um número de capacidades e saberes nesta área. De facto não há dinheiro para os operar mas isso é porque o Estado Português em vez dos 2% do PIB, gasta apenas 1,3%, como refere o diplomata. Eu também preferia que gastasse os 2%, mas essa é uma opção do governo português, não do americano.

Aliás os EUA pedem constantemente o reforço da NATO. Os “Leopard” estão incluídos numa unidade destinada a operar sob o comando NATO. Em que é que ficamos?

Quanto aos Patrulhas estão a ser construídos e já há muito estavam previstos. Tem havido problemas que são conhecidos. As condições do estado do mar da ZEE portuguesa obrigam a navios que aguentem esse mar e a vigilância não se esgota nos patrulhas. Pequenos pormenores que facilmente escapam aos formados em economia…

Finalmente quanto aos generais que diz termos a mais (e até se deu ao trabalho de fazer rácios com soldados!), diremos apenas que não há generais a mais, mas sim soldados a menos e não vou perder tempo a explicar porquê! E partindo do princípio que o Sr. Embaixador conhece o estatuto da reserva e não o confunde com as “forças de reserva” que existem no seu país, direi apenas que, estando os generais na reforma ganhariam mais, e se a maioria não faz nada é porque felizmente não temos tido conflitos que obriguem a ir buscá-los e os sucessivos governos os têm ostracizado, pois têm ocupado todos os lugares onde estes homens poderiam usar a sua rica experiência, pelas clientelas dos partidos que os sustentam.

Em súmula, o Sr. Embaixador actuou como a maioria dos seus compatriotas faz: acha-se o centro do mundo e tende a olhar para os outros povos com sobranceria e com uma matriz estado-unidense, sem a menor sensibilidade para entender outras realidades.

Sim, é natural que Portugal pertencendo à UE, negoceie preferencialmente com os restantes países da União; sim, nós temos consciência das nossas limitações – daí até ao complexo de inferioridade vai um tanto – e, por isso, tentamos obter material moderno para as FAs; sim compreendemos que o Sr. Embaixador gostasse mais que comprássemos ao seu país (mesmo os F-16!) e que possa ter ficado agastado quando o sucessor do ministro Portas, já não se dava tão bem com o Secretário Rumsfeld, mas que diabo permita lá que nós também escolhamos qualquer coisinha. Sabe, o restaurante Tavares – que o Sr. Embaixador seguramente gostava de frequentar – é contemporâneo da Revolução Americana…

E faça o favor de não nos tornar por lerdos. Às vezes temos gente menos preparada ou cobardolas em altos cargos, é verdade, mas não somos lerdos. Nós sabemos da apetência que os EUA têm sobre os Açores desde, pelo menos, a guerra com a Espanha, em 1898, e que até já prepararam uma invasão, em 1943; que a nossa ZEE e plataforma continental são as únicas que deste lado do Atlântico se podem medir com as vossas.

Sabemos que temos que ter o máximo cuidado nas “vírgulas” quando intentamos contratos convosco para não sermos ludibriados e não esquecemos que depois de vos termos apoiado lealmente na NATO, na Guerra Fria, e termos até entrado para a ONU a vosso pedido, miseravelmente nos traíram, apoiando o início do terrorismo em Angola e abandonaram-nos quando o execrável Nerhu nos invadiu Goa, Damão e Diu. Isto para não falar da inacreditável tirada de Kissinger, durante o PREC, afirmando que o problema de Portugal se resolvia com 5000 marines…

Já agora e para finalizar, do que conheço não me parece que os nossos oficiais sejam muito diferentes dos vossos quanto a postura/promoção na carreira. E, se olhar para o que aconteceu entre o general McCristal (seguramente uma excepção), demitido pelo liberalíssimo Obama, perceberá porquê.

E, senhor embaixador, agora residente numa mansão de luxo em Atherton, Califórnia; quando se quer atirar pedras ao telhado do vizinho, temos que olhar primeiro para o nosso, o senhor como embaixador, não precisava de pedir para recolher o seu avião, numa instalação militar para não ter que pagar taxa de aeroporto!

Por tudo o que atrás se disse, parece ser de concluir que o Sr. Embaixador foi mal escolhido, estava mal assessorado e mal informado. E isto só quer dizer uma coisa: o governo dos EUA só pode ter Portugal em muito má conta, quando para cá envia um embaixador deste quilate.

À atenção de quem de direito e… vejam se não ficam sentados!

*****

Estavam as notícias do Expresso ainda frescas e já um jornalista da SIC pedia, no telejornal do dia 28/2, ao comentador habitual da estação, o conhecido Miguel Sousa Tavares (MST) para comentar as ditas.

O homem não se fez rogado e aproveitou o ensejo de forma gulosa.

De facto, já há muito se sabe que cada vez que se fala em FAs ou militares, S. Ex.ª perturba-se e fica como boi frente a vermelho: investe sem discernimento.

O “pedregulho” que tem no sapato contra a Instituição Militar, embora certamente não se esgote nisso, ter-lhe-á vindo por via genética através do seu falecido pai, que travou um pleito contra os juízes do Tribunal Militar por causa da atribuição de pensões a antigos agentes da DGS, onde aliás não lhe assistia qualquer razão.

MST ficou sempre “esquerdo” com a tropa. Desta vez não foi excepção.

Começou por tecer encómios ao embaixador americano e à diplomacia americana. Aquilo era a sério e estavam muito bem informados! (também foi assim no Iraque, não foi MST?).

E lá veio com a sacrossanta e contumaz pergunta, velha de 30 anos: que FAs temos e para quê? Devem haver, no país, uns largos milhares de treinadores de bancada e tocadores de rabecão, que têm tantas respostas para isto como cabeças donde saem sentenças.

MST também demonstra saber umas coisas de lagares de azeite, mas como isso não lhe chega, põe-se em bicos de pés para abordar geopolítica e geoestratégia. A gerência da SIC deve pagar-lhe para ele falar de tudo…

Sobre as diatribes relativamente a submarinos, F-16, Pandures (meu Deus o que ele sabe sobre Pandures!) e outros “brinquedos caros” – não consta que a guerra alguma vez tenha sido barata – já se respondeu o suficiente a montante. Acrescentamos apenas que os militares estão, há muito, afastados daquilo que apelidou de “negociatas com armamento”.

Mas vale a pena salientar a contradição em que entrou ao defender, preto no branco, uma intervenção militar – presume-se que do “Ocidente” – contra Kadhafi. Pondo de lado a ligeireza com que se fazem este tipo de afirmações, gostaríamos que MST explicitasse como se faz uma intervenção na Líbia sem o recurso aos tais “brinquedos caros” que condenou. Pensa que se vai lá com “lanchas costeiras de fiscalização”? Ou pensa que isso das intervenções militares é só para os outros e nós estamos dispensados de participar, mesmo pertencendo a várias organizações de defesa colectiva? Ou pensa ainda que mudar de armamentos e equipamentos e aprender a utilizá-los se faz de um dia para o outro? O senhor enxerga-se?

Por último brindou-nos com este mimo: “os políticos em Portugal têm medo dos militares”; “submetem-se à vontade dos militares” e só se explica “por dívida de gratidão por causa do 25/4”. MST não atina mesmo! Então ainda não percebeu que a realidade do que se tem passado é justamente a oposta? O senhor não percebeu que a classe política (todos eles) por uma razão ou outra, detesta as FAs, não entende e despreza a IM e que quem não tem sabido fazer frente às investidas dos políticos são os militares? Que não existe dívida de gratidão nenhuma, antes pelo contrário? E que os militares acabaram por ficar de mal com todas as franjas da população e com eles próprios, por causa das asneiras então feitas e ainda andam a tentar recuperar (sem grande convicção, diga-se), disso tudo?

O senhor cuide-se. E não cuide só da substância do que diz. Burile o temperamental que lhe embota a mente e lhe produz tiques e esgares; modere a truculência que lhe afirma a sobranceria e lhe faz roçar a má criação. E se só sabe tocar ferrinhos não tente o rabecão.

De facto já devia ter havido um general que se levantasse, mas era para lhe dar uma “bengalada”!

quarta-feira, 2 de março de 2011

PORTUGAL, O MUNDO MUÇULMANO E A EUROPA

“Em muitas coisas não pareces sucessor de Pedro, mas sim de Constantino”
S. Bernardo, ao Papa Eugénio

No fim do século XI, princípios do XII, a Europa Cristã estava cercada.

A Norte pela calote polar; a leste por eslavos hostis e pela ameaça constante de Mongóis e Tártaros; a Sul e SE pelos povos islamizados, em rápida expansão. Esta expansão tinha, até, ocupado toda a Península Ibérica em poucos anos, a partir de 711, sendo travados por Carlos Mardel, em 732, já no actual Sul de França.

Uma pequena bolsa de cristãos resistiu, porém, nas Astúrias e foi a partir daí que a Reconquista teve inicio, a partir do séc. IX. A navegação desde o Mediterrâneo até à Corunha não era dominada por nenhuma das partes e os conflitos eram constantes.

No princípio do século XII um magistral personagem que ficou conhecido na História por S. Bernardo, abade de Claraval (1090-1153) – a quem devemos muito da Europa que herdámos – ajudou a delinear uma estratégia para aliviar e resolver este sufoco (cerco): atacar directamente o Islão no seu coração – e libertando a cidade santa de Jerusalém – e conter ou expulsar as ameaças nos flancos.

Esta estratégia já vinha do tempo em que o Papa Urbano II pregou a Cruzada (o que aconteceu pela 1ª vez, em 1095, no Concilio de Clermont Ferrand) e incentivou a saída dos sarracenos da “Ibéria” – a Cruzada do Ocidente (que só se concluiu com a queda de Granada, em 1492). Tudo isto se veio a apoiar na criação e desenvolvimento das Ordens Militares e Religiosas, em que se distinguiram a Ordem Teutónica (fundamental para conter as hordas bárbaras vindas de leste) e os Templários. Estas Ordens organizavam e enquadravam a colonização das terras libertadas e garantiam a sua defesa.

D. Afonso Henriques correspondeu-se com o Abade de Claraval – e é possível que ainda fosse seu parente – e Portugal muito deve a este monge (e estratega), depois Santo e doutor da Igreja, a sua independência.

Toda esta estratégia teve um sucesso parcial (não conseguiu destruir o Islão nem segurar Jerusalém), mas garantiu, com o desenvolvimento dos estados/nações europeus, a segurança das fronteiras da Europa, com uma zona de fractura nos Balcãs.

O declínio dos povos árabes e assimilados do Norte de África, bem como dos Persas, foi compensado com o Império Otomano cujo alargamento foi parado em Lepanto, em 1571 e às portas de Viena, em 1525 e 1683 (sendo atacado pela “retaguarda”, pelos portugueses, a partir de 1497), e circunscrito basicamente à Península da Anatólia, após os turcos terem sido derrotados na IGG. Durante 500 anos a guerra marcou sempre a sua presença.

A expansão europeia pelas quatro partes do mundo e o seu poderio crescente, levou a que várias das suas potencias ocupassem a maioria dos territórios islamizados do Norte de África e do Médio Oriente, durante o século XIX e princípios do XX.

Na sequência da II GM e com a evolução do Direito Internacional e os “ventos” de autodeterminação dos povos, cada um destes países foi ganhando a sua independência baseada nas fronteiras coloniais e herdando todas as vicissitudes da sua atribulada História.

A complicar toda esta situação foi criado na Palestina, em 1948, o Estado de Israel, acabando assim um vácuo político da “nação” judaica que durava há cerca de 2000 anos. Um evento único na História da Humanidade.

Esta ocorrência deve-se, fundamentalmente, à acção do movimento Sionista fundado pelo húngaro Teodor Herzl (1860-1904), e cujo primeiro congresso teve lugar em Bale, Suíça, em 1897; no sentimento de culpa europeu e sequelas por causa do “Holocausto” e, sobretudo, pelas promessas do governo inglês feitas durante a IGG (declaração de Balfour, de 1917), entregue ao Barão de Rothschild, um dos principais apoiantes da causa sionista, em troca do apoio desta à entrada dos EUA na guerra, contra os alemães. Um facto muito pouco estudado e evidenciado por historiadores, políticos e diplomatas…

Ajudava ao caso, o facto da Grã-Bretanha deter o mandato para a administração da Palestina, outorgado pela defunta Sociedade das Nações, em 1922.(1)

Ora a instauração do Estado de Israel, do modo como foi feita e pela não resolução adequada da situação dos povos que por lá habitavam havia séculos, levaram à não aceitação do “status quo”, por parte da grande maioria do mundo muçulmano, o que tem originado, desde então, várias guerras, terrorismo internacional e uma instabilidade permanente.

Jerusalém é, por via de tudo isto, um epicentro que está sempre na linha da frente de uma deflagração bélica a nível mundial.

A decadência de séculos, a memória de uma antiga civilização florescente, a ocupação colonial europeia, as sucessivas derrotas militares e a pobreza endémica em contraste com a opulência malsã das cliques de governantes, transformaram a reconhecida resignação do árabe num sentimento de profunda humilhação e revolta.

O único traço de união e esperança é a religião, a que se agarram como tábua de salvação e coesão por não lhes restar mais nada. Mas, por outro lado, é a própria religião, pelas imposições dogmáticas que faz e por querer dominar o pensamento, a vida social e o próprio Estado, que impede qualquer progresso e evolução. Por isso a investigação científica quase desapareceu, as artes plásticas não têm expressão, a literatura é pobrezinha, enfim a cultura e o engenho definharam. O mundo muçulmano não inventa nem cria nada que se veja, desde o século XII…

A baralhar ainda mais as coisas existem divisões religiosas profundas, entre muçulmanos, as mais visíveis das quais são entre Sunitas e Xiitas.

Como pano de fundo actual, devemos ainda considerar duas realidades da maior importância: a primeira é a dicotomia entre a “UMA” e os regimes políticos que governam os respectivos povos; a outra é a geopolítica do petróleo (e gás natural).

A UMA representa a comunidade dos crentes, ou seja a irmandade de todos os povos submetidos ao Islão. Esta ideia é universalista e não entende a necessidade de fronteiras ou de estados diferenciados. Aspira a um novo “Saladino” que una todos os crentes numa única humanidade… Esta ideia percorre transversalmente todos os povos islamizados e torna-se, por vezes, antagónica da existência de poderes diferenciados e locais. A realidade politica definida pelas fronteiras coloniais apenas serve para exacerbar este conflito.

A geopolítica do petróleo torna o Ocidente refém da sua importância, dado que as sociedades desenvolvidas basearam a sua riqueza e progresso material nos combustíveis fósseis. E deixaram desenvolver-se, no seu seio, verdadeiros “estados dentro do estado” que são os colossos das grandes companhias que exploram e negoceiam o produto. Ao ponto dos interesses destas multinacionais chegarem a sobrepor-se ao interesse dos países ocidentais. Agora também da Rússia.

Ou seja não se faz o que se deve, mas sim o que interessa a este negócio/dependência.

Por outro lado os povos dos países muçulmanos produtores não se sentem tocados, na sua generalidade, com os benefícios que esta enorme riqueza e “arma” estratégica lhes poderiam proporcionar.

O resultado é o aumento das tensões sociais, a pobreza arrastada e a falta de qualidade de vida; a demografia galopante, cuja tradição social, imperativos religiosos e interesses políticos, potencia, vai obrigar à emigração em massa, por causa do desemprego existente.

As maiores vitimas deste fluxo migratório, que se descontrolou, foram os países europeus da margem norte da bacia mediterrânica.

A situação está prestes a gerar conflitos insanáveis devido ao excesso de permissividade das leis das sociedades ocidentais e porque as comunidades islâmicas não se integram, por norma, nos países de acolhimento.

As tentativas dos países da UE em os integrar falharam redondamente e as tentativas para dourarem a realidade com o “multiculturalismo” não resistem à mais leve análise. A recente confissão da Srª Merckel deu-lhe o golpe de misericórdia.

Mesmo iniciativas políticas para melhorar o comércio e o desenvolvimento económico e social, como foram as 5+5 e a Declaração de Barcelona, respectivamente em 1990 e 1995, foram tardias e pouco lograram e os recentes eventos mataram-nas de vez.

Finalmente a constituição de duas forças militares da UE, para o Mediterrâneo, a Euroforce e a Euromarforce, criadas em 1995 (em que participam forças da França, Espanha, Itália e Portugal), foram vistas pelos países do Magreb, como uma ameaça.

E foi assim que chegámos à actual sucessão de eventos de revolta político/social, que varre todo o mundo islâmico de Marrocos ao Iémen, com um efeito de dominó notável. E que, tanto quanto se sabe, “ninguém” provocou ou previu. E não parece ir parar por aqui…

Para a Europa a que pertencemos, estes eventos além de irem evidenciar, mais uma vez, as perplexidades europeias e a falta de entendimento crónico e atempado dos “27”, vão ter reflexos previsíveis em quatro áreas fundamentais:
Aumento do preço do petróleo/gás e perturbação no seu mercado;
Aumento, por arrastamento, de todos os restantes bens, de que os mais graves parecem vir a ser, os alimentos;
Instabilidade/ameaça relativamente ao investimento já efectuado, ou a efectuar, nos países atingidos;
Aumento da emigração e possível exacerbar das tensões entre as comunidades de emigrantes, já existentes.

Acresce a todo este quadro as incógnitas em catadupa relativamente à estabilização político/social em cada um dos países ora afectados pelas sublevações populares. Cada um irá ter o seu “processo revolucionário em curso”…

E não é estimável que se venham a estabelecer regras de estado de direito democrático, como são entendidas no Ocidente (embora a sua prática deixe muito a desejar), em virtude das tradições politicas, culturais e religiosas dos povos em questão. E é difícil de prever o grau de influência do “Fundamentalismo Islâmico”…

A perigosidade do momento aconselhava a que os países europeus (já que persistem na ideia da União), abandonassem a única coisa que têm sabido e tido a coragem de fazer, que é a de aproveitar as crises ou o seu intervalo, para fazerem uns negócios e tentar resolver as crises politico/sociais com subsídios a esmo. Não tem sido bonito nem eficaz.

Melhor seria imporem regras estritas dentro dos seus territórios, relativamente ao comportamento dos emigrantes. Quem chega integra-se e cumpre a lei; quem não quer não entra ou é expulso na hora. Ponto final. A emigração tem, aliás, que ser parada, por uma simples razão demográfica: com os números actuais a Europa desaparecerá em poucas décadas. É tão simples quanto isto e não há “direitos humanos” que nos valham!

A Europa, isto é, os países europeus, têm que voltar a querer defender-se. Têm que ter uma estratégia e esta não existe sem Forças Armadas a sério. Os conflitos e as guerras não vão desaparecer.

O modelo de desenvolvimento tem que voltar a ser baseado em valores (respeitar o dos outros não quer dizer destruir os nossos…), e não no negócio a qualquer preço. E já se devia ter, há muito, começado a encarar seriamente alternativas aos combustíveis fósseis.

Os problemas dos países muçulmanos têm que ser confinados e resolvidos por eles próprios. E as relações têm que ter reciprocidade, isto é, se não deixarem construir igrejas nos seus países, por ex., nós não podemos fechar os olhos a isto e facilitar os pedidos das suas comunidades…

Ter estadistas que entendam o que se passa e tenham nervo para tomar medidas sérias e difíceis, parece ser uma miragem enquanto os políticos forem escolhidos maioritariamente nos oriundos das juventudes partidárias e eleitos em pugnas circenses de grande visual e medíocre substância.

Entre nós, portugueses, passámo-nos a julgar “pequeninos” e por isso nos tornámos indigentes e saloios. Senão atalharmos caminho, brevemente teremos os nossos dias de “raiva”.

Até lá o governo continuará a saltar de mentira demagógica para outra mentira eleitoral e a viver num mundo em que só ele acredita; o Parlamento seguirá com as suas tricas e discussões estéreis e o senhor Presidente mostrar-se-à cada vez mais preocupado.

O país, com muçulmanos ou sem eles, irá para o fundo.

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[1] Outro ponto pouco conhecido, mas curioso, tem a ver com o facto de se ter pensado instalar o Estado de Israel, no planalto angolano…